Em um cenário em que a tecnologia avança mais rápido do que as normas e a confiança se tornou um bem cada vez mais escasso, a regulamentação de apostas enfrenta um desafio que vai muito além de controlar ou punir. As novas plataformas online, o acesso praticamente ilimitado e a expansão do entretenimento digital transformaram profundamente a forma de jogar, apostar e consumir. Diante dessa realidade, os órgãos reguladores precisam se reinventar: já não basta aplicar a lei, é preciso construir legitimidade, comunicar valores e fortalecer o vínculo com a sociedade, como explica o analista em Marketing e consultor uruguaio Federico Rodríguez Aguiar.
Em artigo exclusivo para o SBC Notícias, o especialista defende que o futuro da regulação na América Latina estará apoiado em três pilares fundamentais: ética, inovação e confiança pública. Segundo ele, somente um modelo que integre esses elementos será capaz de garantir um mercado transparente, coerente e sustentável no longo prazo.
O papel ético do regulador
No universo do jogo e das apostas, a atuação dos órgãos reguladores é tão complexa quanto essencial. Não se trata apenas de fiscalizar e garantir o cumprimento das normas, mas de assumir um compromisso mais amplo com a sociedade. Esse compromisso, hoje, se traduz em três conceitos que passaram a orientar o debate regulatório: ética, inovação e confiança pública.
A indústria do jogo vive um processo acelerado de transformação. As plataformas digitais ampliaram o acesso, os operadores diversificaram seus produtos e o comportamento do consumidor se tornou mais dinâmico. Nesse contexto, a regulamentação não pode se limitar a aspectos técnicos. Ela precisa transmitir valores, demonstrar coerência nas decisões e, sobretudo, comunicar de forma clara para que a sociedade compreenda que cada regra é guiada por critérios éticos voltados à proteção do interesse coletivo.
Falar de ética na regulamentação de apostas vai muito além do cumprimento literal da lei. Significa estabelecer princípios que orientem a gestão e coloquem as pessoas no centro das decisões. Um órgão regulador pautado pela ética se compromete com a integridade da indústria, com a prevenção de práticas abusivas e com a promoção de um ambiente de mercado mais justo.
Nesse processo, a comunicação exerce um papel central. Explicar por que determinadas medidas são adotadas, como elas impactam a sociedade e de que forma se conectam a valores como equidade, responsabilidade e integridade é fundamental. Quando a ética se transforma em narrativa pública, o regulador não apenas regula: ele educa, orienta e estabelece padrões de conduta.
Inovar para se aproximar da sociedade
O segundo pilar é a inovação, entendida não apenas como a adoção de novas tecnologias, mas como uma nova forma de relacionamento com a sociedade. Portais de dados abertos, aplicativos que oferecem informações em tempo real e canais de consulta online são exemplos de como os reguladores podem modernizar sua interação com o público.
A inovação também se reflete na comunicação. Estratégias digitais com conteúdos educativos, campanhas interativas nas redes sociais e formatos audiovisuais de fácil compreensão ajudam a tornar acessíveis informações que antes pareciam restritas a especialistas. Inovar, nesse contexto, é traduzir o que é complexo em mensagens claras e transformar o que é distante em algo próximo do cidadão.
Confiança: o capital intangível
Ética e inovação convergem para um mesmo objetivo: a construção da confiança pública. A confiança é um capital intangível que não se impõe por decreto; ela é construída ao longo do tempo. Para um órgão regulador, representa a validação social de seu trabalho e a legitimidade de sua atuação.
Essa confiança se fortalece quando a sociedade percebe coerência entre discurso e prática, quando as decisões são explicadas com clareza, quando as demandas recebem respostas ágeis e eficazes e quando existem espaços reais de diálogo com operadores, imprensa, jogadores e a sociedade em geral.
Mais do que “comunicar bem”, trata-se de demonstrar, por meio de ações consistentes e mensagens alinhadas, que a regulamentação existe para proteger o interesse público e garantir a integridade do mercado.
Uma agenda para o futuro
O foco em ética, inovação e confiança pública não é apenas uma estratégia de comunicação institucional. Trata-se de uma agenda concreta para fortalecer a relação entre os órgãos reguladores e a sociedade em um setor sensível como o do jogo.
Na prática, isso envolve a divulgação periódica de relatórios de gestão, campanhas educativas que aproximem a população dos princípios do jogo responsável e canais de comunicação acessíveis, que permitam ao cidadão participar e acompanhar o processo regulatório.
A indústria do jogo continuará a crescer e a se transformar. Novas tecnologias, modelos de negócio emergentes e demandas sociais cada vez mais complexas colocarão à prova a capacidade de adaptação dos reguladores. No entanto, quando esse caminho é construído sobre bases éticas, sustentado por inovação e orientado pela confiança, o setor passa a contar com fundamentos sólidos para enfrentar os desafios que virão.
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Em um cenário em que a tecnologia avança mais rápido do que as normas e a confiança se tornou um bem cada vez mais escasso, a regulamentação de apostas enfrenta
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