A pressão digital e o próximo “pior presidente da história”

Nos últimos anos, a resposta das torcidas a temporadas abaixo do esperado consolidou-se em uma reação pública imediata: o presidente em exercício sempre é “o pior da história”. Nas redes sociais, a narrativa se propaga com velocidade e escala, transformando frustração esportiva em pressão contínua. Para os gestores, não raramente distantes da profissionalização e consumidos pelo cenário político que orbita clubes associativos, significa operar em um ambiente em que a percepção pública pode antecipar e condicionar decisões administrativas, muitas vezes antes que diagnósticos técnicos sejam concluídos.


No Brasil, se não somos vencedores ou ao menos classificados para a Libertadores, se pensarmos no Campeonato Brasileiro, o clube tem um dos piores da história. Isso serve para o presidente e, claro, também para diretores diversos, incluindo os de futebol. Hoje, no país, para esse recorte, temos ao menos dez clubes com críticas pesadas. E é impossível termos dez campeões.

A cobrança dos torcedores é legítima e necessária — exige-se transparência, eficiência e resultados. O problema aparece quando a lógica das redes sociais reduz debates complexos a slogans e viraliza julgamentos absolutos, sem considerar prazos, variáveis externas e transições estratégicas necessárias com efeitos não imediatos. Essa simplificação dificulta a distinção entre os erros operacionais passíveis de correção e escolhas de médio prazo que requerem continuidade para maturar.

Fui testemunha presencial de que William Thomas, ainda em 2024, claramente sabia o que queria para o futebol do Coritiba de 2025, como já sabe (agora apenas pressuponho, sem testemunhar) para 2026. Pode-se até criticar o que ele queria, faz parte. Mas o trabalho dele, e de toda sua ótima equipe de profissionais, tinha destino e método. Pela pressão das redes e de influenciadores, tudo teria sido interrompido. Quando se confia em um trabalho e principalmente em um profissional desse alto nível de qualidade, é preciso saber esperar. Se o clube fosse gerido por alguém com a pressão de receber o rótulo de novo pior presidente da história, ele teria tido a tranquilidade da manutenção? Sem essa espera, o Coritiba teria subido?

A exposição digital e a rapidez da condenação pública impõem custos diretos à gestão e, consequentemente, aos clubes. Pressionados por narrativas hostis, dirigentes tendem a adotar medidas visíveis e imediatas, como mudanças frequentes nas comissões técnicas, contratos milionários que se transformam em passivos sem contrapartida técnica, cortes em projetos estruturantes ou paralisia de reformas administrativas. Alternativas que aliviam a opinião pública no curto prazo, mas prejudicam a estabilidade necessária à execução de planos estratégicos.


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No plano financeiro e de governança, o imediatismo amplificado pelas redes incentiva decisões de risco: contratações pontuais e dispendiosas, antecipação de receitas e outros atalhos que produzem alívio esportivo efêmero e elevam fragilidades financeiras. Além disso, reputação instável dificulta a atração de patrocinadores e profissionais qualificados, reduzindo a capacidade do clube de executar projetos com previsibilidade e qualidade técnica.

A cobrança das arquibancadas pode e deve ser aliada da boa governança quando orientada por dados e prazos realistas. Gestores têm a responsabilidade de comunicar planos e demonstrar progressos, enquanto instituições precisam estruturar continuidade mesmo em períodos de pressão intensa. Só assim a mobilização social deixa de ser um fator de descontinuidade e passa a fortalecer o clube no médio e longo prazo.

Uma comunicação proativa, explicando opções, riscos e horizontes de implementação, reduziria ruídos e criaria margem de manobra para decisões racionais. Mas ainda temos um ponto importante: embora nem sempre efetivamente as piores da história, temos de fato gestões abaixo do ideal no Brasil. E a política vaidosa só potencializa o que vai mal, oferecendo ingredientes perfeitos para trabalhos fadados a serem cravados como os piores da história, em um país onde a memória curta parece ser cada vez mais cultural.

O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte

Vinicius Lordello é diretor de comunicação e relações públicas da N Sports e professor de Comunicação (Gestão de Reputação e Crises no Esporte) na CBF Academy. Foi executivo de comunicação e conteúdo do Santos (2018), do Cruzeiro (2021/2022, na primeira transição para SAF do Brasil) e do Coritiba SAF (2024/2025). Tem dupla graduação (Ciências Sociais e Direito); pós-graduações em Jornalismo Esportivo, Gestão Financeira Estratégica e ESG; MBA em Gestão e Marketing Esportivo; e Mestrado em Gestão de Reputação no Esporte

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No Brasil, se não somos vencedores ou ao menos classificados para a Libertadores, parece que a gestão não serve; hoje, para esse recorte, temos ao menos dez clubes com críticas pesadas, mas é impossível termos dez campeões
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