Nos 115 anos de história do Corinthians, nenhum dirigente foi capaz acumular tantas glórias em sua gestão, quanto Andrés Sanchez, que liderou o clube de 2007 a 2011 e depois de .
Copa Libertadores, Centro de Treinamento, Mundial de Clubes, contratação de Ronaldo Fenômeno, estádio próprio – todas essas realizações têm participação do dirigente, mesmo quando ele não estava mais no cargo, mas seguia influenciando os rumos do Corinthians.
O cartola também conseguiu expandir sua influência para além do Parque São Jorge, tendo participação crucial em momentos que transformaram para sempre a configuração financeira do futebol brasileiro.
De homem que revolucionou o Corinthians, Andrés Sanchez acaba de ir à condição de praticamente persona non grata no clube.
Nesta semana, o ex-presidente, principal liderança do Grupo Renovação e Transparência (que comandou o Timão de 2007 a 2023), foi indiciado pelo Ministério Público (MP), por conta de denúncias envolvendo o uso indevido do cartão corporativo para fins pessoais, inclusive durante viagens a Tibau do Sul (RN), onde está localizada a Praia da Pipa, e Fernando de Noronha (PE).
Em sua denúncia, o promotor de Justiça Cássio Roberto Conserino pede a devolução de R$ 480 mil ao clube, por parte de Andrés e do ex-gerente financeiro Roberto Gavioli.
O ex-presidente solicitou afastamento dos Conselhos de Orientação (Cori) e Deliberativo (CD) do Corinthians, onde era membro vitalício, para poder se defender das denúncias.
O pedido foi aceito pelo presidente do CD, Romeu Tuma Jr., sem a necessidade de votação por parte dos demais conselheiros.
Tuma Jr. ainda informou que “a Comissão de Justiça do CD dará seguimento à apuração do caso do uso do cartão corporativo, ouvindo inclusive os ex-diretores e presidentes de órgãos fiscalizadores do clube à época das gestões de 2018 para cá”.
Ascenção
A derrocada de Andrés Sanchez é resultado de um processo lento e doloroso, que coincide com o próprio desgaste de seu grupo político no Corinthians.
O cartola chegou ao poder em meio a uma das piores crises da história do clube, que culminou com o rebaixamento da equipe à Série B do Brasileirão, em 2007.
No ano seguinte, porém, Andrés resolveu tomar medidas ousadas à frente do Corinthians. A principal delas foi a contratação do atacante Ronaldo Fenômeno, que atravessava um momento de baixa na carreira e não conseguia espaço nos clubes de ponta da Europa.
O jogador chegou a flertar com o Flamengo, seu time de infância, mas no fim acabou fechando com o Timão. Em 2009, o clube venceria o Paulistão e a Copa do Brasil. Mais do que os títulos, porém, a vinda do ídolo ajudou a turbinar o faturamento do Corinthians, com inúmeros contratos publicitários com grandes marcas.
No ano seguinte, Andrés foi escolhido como chefe de delegação da seleção brasileira, na Copa do Mundo da África do Sul. Àquela altura, o dirigente, que sempre foi muito próximo ao PT, partido que governava o país, soube usar de sua influência para materializar um antigo sonho da torcida corintiana: o estádio próprio.
Com um financiamento milionário liberado pela Caixa, o Corinthians viabilizou a construção da Neo Química Arena (que, inicialmente, ainda não tinha esse nome), em Itaquera, e de quebra ainda desbancou o Estádio do Morumbi (atual Morumbis), do rival São Paulo, como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.
Em 2012, mesmo já fora da presidência, o projeto político de Andrés alcançou seu ápice, com as conquistas da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Corinthians. Àquela altura, ele ocupava o cargo de diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e sua influência parecia não ter fim.
Tanto que, em 2014, mesmo em meio às denúncias da Operação Lava Jato, que fizeram a votação do PT derreter em São Paulo, o dirigente corintiano não encontrou dificuldade alguma para se eleger deputado federal. Ele foi o único candidato da legenda, naquele ano, a ultrapassar a marca de 150 mil votos (obteve exatos 169.834).
Clube dos 13
Andrés também teve atuação decisiva na implosão do Clube dos 13, entidade criada em 1987, com a finalidade de lançar uma liga independente para organizar o Brasileirão no lugar da CBF, que, inicialmente, havia aberto mão de promover a competição.
Após uma primeira experiência com a Copa União de 1987, que foi bem sucedida em termos comerciais, financeiros e de mídia, mas que terminou em polêmica na esfera esportiva (assunto que até hoje rende muito debate entre torcedores de Flamengo e Sport), o Clube dos 13 passou a focar sua atuação nas negociações dos direitos de transmissão do Brasileirão, enquanto a CBF seguiu organizando o campeonato.
No início de 2011, o Corinthians anunciou seu desligamento da entidade, por discordar da forma como ela negociou os direitos coletivos dos clubes, para o ciclo de 2012 a 2014. Esse movimento de esvaziamento contou com as participações decisivas de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense.
Com o fim do Clube dos 13, o Timão e o Flamengo passaram a receber as maiores cotas de TV pagas pelo Grupo Globo. Como estava mais organizado financeiramente que o rival carioca, o Corinthians conseguiu usar essa vantagem econômica para empilhar troféus, durante a década passada. A partir de 2018, porém, a fatura dessas conquistas chegaria de forma amarga.
A queda
O último título de expressão nacional do Corinthians foi o Brasileirão de 2017. Desde então, o clube assistiu às ascensões do arquirrival Palmeiras e do próprio Flamengo, que estabeleceram a hegemonia no país, graças às finanças mais equilibradas.
Enquanto isso, o Timão passou a conviver com o caos em suas contas, situação que tem sido agravada pela dívida contraída junto à Caixa para a construção da Neo Química Arena, que ultrapassa R$ 700 milhões.
Ao mesmo tempo em que não conseguia colocar as contas em ordem, o Corinthians também era incapaz de montar elencos competitivos, flertando constantemente com a zona do rebaixamento.
A derrota da Renovação e Transparência para a chapa liderada por Augusto Melo, na eleição de 2023, foi resultado natural do desgaste político de Andrés e seus correligionários.
A crise que se instalou na gestão do novo mandatário, na esteira do escândalo VaideBet, parecia ser uma oportunidade para que o grupo do ex-presidente pudesse se reerguer.
A cassação de Melo, sacramentada em meados deste ano, porém, representou também um golpe de misericórdia na Renovação e Transparência, que se tornou alvo de diversas denúncias apuradas pelo CD, comandado por Romeu Tuma Jr., atual homem forte do clube.
Hoje, a Renovação e Transparência enfrenta forte rejeição por parte da Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians.
No dia em que o CD elegeu Osmar Stabile como presidente, para cumprir o mandato tampão até o fim do ano que vem, membros da organizada presentes à coletiva de imprensa fizeram questão de declarar que fariam oposição ao dirigente, caso ele nomeasse membros da Renovação e Transparência para cargos de relevo na gestão.
Nesta quarta-feira (15), a Gaviões da Fiel emitiu nota à imprensa exigindo a expulsão de Andrés do quadro de associados do Corinthians.
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Ex-presidente solicitou afastamento do Conselho Deliberativo e do Cori, enquanto se defende das denúncias de uso indevido do cartão corporativo
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