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A transição de carreira é tema essencial para o universo do futebol e, em minha visão, deveria estar em pauta desde o início da formação dos atletas. Isso porque a profissão de atleta de futebol dura em média entre 15 e 20 anos, ou seja: muito menos dos que as carreiras em outras áreas profissionais. Assim, a aposentadoria vem em idade jovem e de grande capacidade produtiva.
Vale ressaltar que não se trata apenas de ter ou não uma atividade profissional depois de encerrar a jornada dentro dos gramados mas, essencialmente, de manter a realização pessoal e a fonte de retorno financeiro.
Desenvolver planejamento estratégico, no timing adequado, para que o pós-carreira seja produtivo e bem-sucedido representa, também, aumentar as possibilidades de ex-atletas atuarem em alta performance em outras áreas do esporte mais amado do Brasil. Essa união entre a vivência/experiência prática com a qualificação para atuar com igual competência em outras áreas (gestão, performance, saúde, etc) pode representar um importante ganho para o desenvolvimento da modalidade.
Temos excelentes exemplos de ex-atletas que se qualificaram para a atuação fora dos gramados e contribuem significativamente com a indústria esportiva e desfrutam de sucesso profissional. No entanto, o que se tem visto com frequência cada dia maior é a entrada de profissionais que nunca atuaram antes no futebol mas, têm seus espaços merecidamente conquistados por meio das suas competências técnicas e vivência em áreas profissionais e ambientes corporativos.
Não defendo aqui priorizar este ou aquele perfil de profissional mas, sim, reforço a reflexão sobre como os ex-atletas, se bem qualificados para as posições fora dos gramados, podem contribuir para a indústria e para as suas jornadas pós-carreira.
É igualmente verdadeiro que o futebol também tem muito para contribuir com os ambientes corporativos. Organizações de diversos segmentos podem contar com ex-atletas e suas vivências no esporte para gerar significativo valor em cargos de gestão e diferentes outras atuações. O ponto essencial para que haja essa perspectiva positiva e de troca de valor é: o desenvolvimento profissional por meio da qualificação e a busca por conhecimento.
Para compreender essa relação ouvi Fernando Prass, ex-goleiro, figura emblemática no esporte, que defendeu por muitos anos o Palmeiras e tem passagem por clubes como Coritiba, Vasco, União de Leiria (Portugal) e Ceará. Prass, atualmente em seu pós-carreira, é comentarista da TV Globo.
Ouvi ainda, Paulo André, ex-zagueiro campeão mundial pelo Corinthians, que iniciou sua jornada esportiva nas categorias de base do São Paulo e teve passagem por clubes como Guarani, Cruzeiro, Le Mans (França), Shanghai Shenhua (China) e Athletico Paranaense, onde finalizou sua carreira e conciliou a posição de atleta profissional com gestor do clube. Hoje, em seu pós-carreira, um gestor visionário no esporte, reconhecido por sua atuação no Valladolid (Espanha) e Cruzeiro. Ainda, tem em sua trajetória a conciliação entre a jornada como atleta e iniciativas voltadas ao desenvolvimento do futebol brasileiro, em movimentos como o Bom Senso Futebol Clube. Além disso, é autor do livro “O Jogo da Minha Vida”.
Fernando Prass e Paulo André trouxeram, com exclusividade para esta coluna, reflexões importantes:
Ana Teresa Ratti: Fernando Prass, após uma carreira tão significativa no futebol, quais foram os principais desafios que você enfrentou ao fazer a transição para novas atividades fora dos gramados?
Fernando Prass: Os desafios pra fazer transição são vários, né?! A questão de parar, se aposentar de uma profissão que normalmente começa com 11, 12, 13, 14 anos… Eu parei tarde, com 43 anos, mas normalmente tu para de jogar com 35, 36, 37. Então é uma pessoa jovem mas que dedicou a vida inteira para uma profissão e, uma profissão que exige muito. Apesar de que, hoje em dia é mais fácil de conseguir conciliar estudos porque tem as opções on-line. Na época que eu comecei não tinha. Hoje tu tem acesso a muitos tipos de cursos, dos mais diversos temas, então se tu quiser se organizar, dá pra estudar.
O principal desafio é a questão de onde tu vai se inserir. É muito lógico continuar no futebol mas o futebol mudou muito e hoje não basta ser ex-atleta. O futebol virou um negócio e, sendo um negócio, ele exige muito mais. Tem que ter muito mais conhecimentos além da parte técnica de dentro do campo e durante muito tempo no Brasil a gente ficou com a ideia de que só sabendo jogar futebol te capacitaria pra trabalhar no futebol. Hoje tá muito longe disso, então as barreiras que tu vai encontrar são barreiras de capacitação.
ATR: Que tipo de planejamento ou formação você recomenda para que jogadores de futebol estejam preparados para a vida pós-carreira esportiva?
FP: Essa é uma questão teoricamente tranquila mas que muitas pessoas não têm a percepção disso. Vivemos em uma das poucas profissões que tu sabe que tem prazo de validade, tu sabe que com 35, 37, 40 anos vai parar… diferente do médico, do advogado, do engenheiro, que pode estender a profissão até quando a saúde permitir. Então é mais fácil fazer um planejamento. Por outro lado, a gente vive numa bolha. O jogador de
futebol é muito protegido e isso é um erro. Num primeiro momento até parece que é bom ter quem faça tudo pra ti, quem pense em tudo pra ti, quem cuide de tudo pra ti e tu só se preocupa em jogar futebol.
Eu acho que isso é uma das maiores besteiras e dos maiores discursos prontos que se criou e as pessoas compraram, e é muito prejudicial. É bom no primeiro momento mas é muito prejudicial porque te limita, te atrofia, na verdade. Quando você para de jogar tu cai no mundo as pessoas que estavam contigo já não estão mais e tu tem que andar por si só. Muitos jogadores se perdem nisso, caem no mundo saindo da bolha e não estão preparados pra isso. Então tu tem que se preparar e não é só pro pós-carreira, não é só fazer um curso…Estudar, ler, é pra vida, né?!
Isso ajuda na vida dentro do futebol também. Então o que eu posso falar: vai atrás de conhecimento. E não digo só aquele conhecimento tradicional, curso de faculdade, essas coisas… Conhecimento que eu digo é trocar ideia com pessoas que veem a vida por outra perspectiva, que são de um outro meio… Trata-se de não ficar só no meio do futebol, de ter rede de contatos com os mais diversos meios possíveis e, óbvio, estudar… E aí o estudo pode ser de diversas maneiras e é difícil durante a carreira saber o que tu vai fazer depois que parar de jogar, é por isso que acho importante transitar por diversos mundos, para experimentar e provar de outras situações fora do futebol, pra entender se é mesmo no futebol que tu quer ficar ou se o pós-carreira está fora.
Eu vi muitas pessoas se apaixonarem por coisas totalmente fora do futebol apesar de terem jogado por 30 e poucos anos. Óbvio que o caminho mais natural é depois de tanto tempo ficar no futebol no pós-carreira mas, uma dica que eu poderia dar: buscar conhecimento, porque independente da área que se queira trabalhar depois dos seus 35 anos, quando tu ainda é novo pra trabalhar, tem que ter conhecimento. Muita gente de fora do futebol está ocupando espaços que poderiam ser de ex-atletas, porque os atletas não se capacitaram pra isso. Muitos entendem que somente por terem sido atletas podem trabalhar no futebol e hoje não é assim.
Fernando Prass, ex-goleiro e atual comentarista esportivo
ATR: Quais habilidades e lições aprendidas no futebol que você considera valiosas para a sua atividade profissional fora dos campos? Além disso, como você vê a possibilidade de ampliar essa conexão entre o que se aprende no esporte e o desenvolvimento do potencial individual, tanto dentro quanto fora do futebol?
FP: A gente vive no país do futebol. A gente acha que as carreiras esportivas e as dinâmicas que acontecem dentro do futebol são exemplos pro resto da sociedade… a questão do trabalho em grupo; perseverança; liderança; superação. Eu não penso assim. Eu acho que é muito forte a mensagem quando vem de um atleta ou um ex-atleta, porque o brasileiro é apaixonado pelo futebol e vê o jogador de futebol como um super-herói mas, no futebol a gente já absorveu muita coisa do meio empresarial, então eu acho que é uma troca: tem muita coisa do meio empresarial que podemos trazer para o futebol e muita coisa de futebol que podemos levar para o meio empresarial, por isso que a diversidade é importante…
Se tu ficar só no meio de futebol provavelmente tu vai ficar só naquele círculo vicioso de ideias, de dinâmicas, e não vai ser desafiado, vai ficar em uma zona de conforto. Valorizo a diversidade, a ideia de transitar em ambientes totalmente contrários, fora, ou opostos ao futebol, porque isso dá um leque de possibilidades de visão de mundo muito diferente.
Eu vejo muito essa questão do futebol no Brasil. Quando um atleta ou ex-atleta vai dar uma palestra é muito impactante pra uma parcela grande da população por ser um jogador de futebol. Mas a gente tem histórias do meio empresarial que tem, na prática, impacto até maior.
Então eu acredito muito na troca e pra ter troca tu tem que ter conhecimento, tem que ter disposição, tu tem que ter um mínimo de conhecimento pra poder dialogar porque se não tiver vai trazer informações de um meio diferente do futebol e não vai conseguir interpretar, não vai conseguir transformar essas informações, esses dados, em conhecimento.
Por isso é importante ler, estudar por meios convencionais e não convencionais, pra conseguir formar conhecimento, não pegar aqueles conhecimentos prontos e replicar… Ter condição de criar o teu próprio conhecimento é um grande diferencial. A gente vive em um mundo em que todos têm acesso à informação, onde quiser, o diferencial pode estar na transformação da informação em conhecimento.
ATR: Paulo André, como você equilibrou sua atuação extra-campo, incluindo posição de gestão no Athletico Paranaense enquanto ainda era atleta profissional, e de que forma essas experiências influenciaram sua transição de carreira?
Paulo André: Em 2015, aos 32 anos, estava no Cruzeiro e percebi que estava entrando na última etapa da minha carreira como jogador. Por isso, resolvi ganhar tempo e iniciei a graduação de administração na PUC- MG. No ano seguinte, durante minha passagem como jogador pelo Athletico Paranaense, morei no CT do clube, o que me permitiu conhecer e me aproximar de várias áreas, como marketing, financeiro, categorias de base, captação e scout. Ainda como jogador, passei a participar de reuniões estratégicas a convite do presidente Mário Celso Petraglia, até que assumi, definitivamente, o cargo de diretor de futebol em junho de 2019, quando me aposentei dos gramados.
Essa possibilidade de atuar em duas frentes fez com que a transição fosse mais leve, sem pressão ou angústia, e a convivência com diferentes áreas do clube e a participação em decisões estratégicas foram me dando a certeza de que, não só havia vida além dos campos, como aquela vida me desafiava e parecia fazer sentido.
ATR: Qual é a sua percepção sobre os principais aspectos que devem ser desenvolvidos para que o processo de transição de carreira seja bem-sucedido e valoroso tanto para o atleta como para o seu entorno?
PA: Acredito que a preparação para a transição de carreira é orgânica e está acontecendo todos os dias durante a carreira. A vida de atleta te abre portas, faz com que pessoas de todos os tipos se aproximem e queiram estar perto de você, te oferece inúmeros convites para eventos, jantares, além, é claro, de uma boa exposição na mídia e nas redes sociais.
Tudo isso pode e deve ser encarado como uma preparação (faculdade da vida) para os próximos passos e desafios, independente do que se pretendera fazer no pós carreira. Outro ponto crucial é o desenvolvimento de habilidades de liderança e comunicação, que são essenciais na vida de quem faz parte de grupos de atletas de alto rendimento e que serão fundamentais em qualquer posição de destaque no mundo do empreendedorismo, esportivo ou corporativo.
Portanto, é fundamental que o atleta construa uma rede de contatos sólida e mantenha um bom relacionamento com colegas, dirigentes, fãs, jornalistas e outros profissionais do meio. Essas conexões não só podem abrir portas e oferecer oportunidades valiosas na nova etapa profissional, como podem abrir os horizontes e fazer com que vejamos a vida e o futuro por um outro prisma.
Paulo André, ex-jogador de futebol e atual gestor esportivo
Finalizo destacando que Prass e Paulo André reforçam a importância do conhecimento e da construção de relações sólidas e com diversidade, indo para além do ambiente do futebol. O exemplo desses dois ex-atletas e profissionais reconhecidos atualmente fora dos gramados, demonstra que a transição de carreira no esporte pode ser uma oportunidade para o contínuo desenvolvimento pessoal e profissional. Ao abraçar a diversidade de experiências e buscar conhecimento, atletas podem encontrar novos caminhos, transformar suas histórias em inspirações e/ou atuar de forma relevante em diferentes áreas tanto no futebol, contribuindo para o crescimento da indústria, como para além dele.
Ana Teresa Ratti possui mais de 20 anos de experiência corporativa, é mestra em Administração, trabalha atualmente com gestão esportiva, sendo cofundadora da Vesta Gestão Esportiva, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte
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Ana Teresa Ratti abordou os desafios desse tema, numa conversa com os ex-jogadores Fernando Prass e Paulo André
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