O SBC Notícias Brasil realizou uma apuração independente a partir da reportagem “O hub empresarial do PCC na Avenida Paulista”, publicada pela revista piauí em setembro de 2025, que investigou uma possível relação entre a B3T4 International Group Ltda. e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo documentos oficiais analisados pelo portal, a matéria teria apresentado inconsistências documentais e ausência de provas materiais.
Na matéria original, foi apontado que a B3T4 e outras conexões da empresa fariam parte de uma rede de negócios supostamente conectados à organização criminosa, com sede em um pequeno espaço de coworking na Avenida Paulista. No entanto, registros oficiais da Junta Comercial, contratos sociais e notificações extrajudiciais apresentadas pelas empresas e pelos ex-administradores contradizem a narrativa publicada.
Empresas rejeitam relação com o PCC
Após a publicação da matéria, a primeira justificativa partiu da ex-administradora Liliane Alberti, que teve nome citado pela piauí como ex-sócia da B3T4.
Em sua notificação, Alberti esclareceu que sua participação na empresa durou apenas dois dias, entre 14 e 16 de agosto de 2024, durante a formalização do contrato social no Brasil, e que sua função era exclusivamente paralegal, representando investidores estrangeiros da única sócia da B3T4, a Media4 Brasil Apostas Ltda.
Documentos da Junta Comercial confirmam que Alberti transferiu integralmente suas cotas e deixou a administração em setembro de 2024, sendo substituída por Victor Muchiutti Maritan, engenheiro e responsável legal que assinou o documento de forma eletrônica e certificada pela ICP-Brasil.
Alberti afirmou que sua participação foi “meramente formal e transitória” e que a reportagem omitiu documentos oficiais e distorceu sua função.
A piauí também apontou a Downtown E-Commerce Company B.V. (DECC), empresa registrada em Curaçao, como parte de uma suposta rede internacional ligada à estrutura da B3T4. A companhia, entretanto, nega qualquer relação irregular.
Licenciada e supervisionada pelo Banco Central de Curaçao e Sint Maarten, a DECC se apresenta como uma Trust Company que presta serviços fiduciários e administrativos a empresas de e-commerce e apostas online.
Seu ex-diretor, o tributarista Jair Almeida Toussaint, afirmou que a publicação “é difamatória e desprovida de base factual” e ressaltou que nunca foi investigado ou denunciado por nenhuma autoridade, no Brasil ou no exterior. Ele explicou que a DECC apenas representa legalmente empresas sob as leis de Curaçao, sem interferência nas decisões comerciais ou operacionais dos clientes.
Ao ser questionado sobre as ferramentas usadas pela DECC para prevenir que clientes utilizassem a estrutura da empresa para ocultação de ativos, o advogado Felipe Luiz Maia afirmou que faz “verificações de KYC antes de aceitar qualquer cliente e atualiza periodicamente essas verificações”.
Quanto ao contrato de patrocínio entre Vaidebet e o Corinthians (cujo ex-presidente, Andrés Sanchez, foi denunciado hoje, 15, pelo Ministério Público por possível relação com o PCC), a DECC informou que o documento foi negociado integralmente por advogados brasileiros e que Toussaint o assinou somente na qualidade de diretor fiduciário local, conforme exigência legal de Curaçao. O contrato continha uma cláusula anticorrupção, posteriormente acionada pela própria operadora.
Falha nos argumentos centrais de acusação
Segundo documentos oficiais analisados pelo SBC Notícias Brasil, foram esclarecidas duas falhas centrais na apuração da piauí.
O primeiro ponto levando em conta foi o endereço compartilhado com outras empresas supostamente associadas a Mohamad Hussein Mourad, empresário investigado por participação em esquema bilionário com o PCC. A B3T4 utilizou, de forma temporária, um espaço de coworking na Avenida Paulista como endereço fiscal, prática comum em startups e holdings durante a fase de estruturação, segundo nota da empresa.
O contrato social mais recente da B3T4, registrado em 31 de janeiro de 2025 na Junta Comercial do Estado de São Paulo, confirma que a empresa está sediada na Avenida Paulista, nº 509, sala 1513. A alteração de endereço e o licenciamento municipal constam nos sistemas da Jucesp e do Via Rápida Empresa.
O segundo argumento se baseia na confusão de cargos. A reportagem original teria apontado erroneamente cargos administrativos como participação societária. Pessoas citadas como “sócios”, como Erich Pelitz, Victor Muchiutti Maritan e Cristina Rehem, nunca teriam integrado o quadro societário da B3T4, mas atuado apenas como administradores técnicos, conforme exigido pela Portaria SPA/MF nº 827/2024, que obriga empresas do setor de apostas a designar responsáveis por áreas como finanças, compliance e relações institucionais.
Empresas afirmam não ter recebido espaço para resposta
Além da B3T4, a DECC e a ex-administradora Liliane Alberti enviaram notificações extrajudiciais à redação da revista, exigindo retratação pública e publicação de direito de resposta, conforme previsto na Lei nº 13.188/2015. A redação publicou, no dia 29 de setembro, um trecho da nota da B3T4 negando as acusações.
O SBC Notícias Brasil também entrou em contato com a revista piauí, mas não obteve resposta até o momento.
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