Bahia, Inter e Vasco são únicos grandes clubes a lembrar 60 anos do golpe de 1964

Bahia, Internacional e Vasco da Gama foram os únicos clubes, entre os grandes do futebol brasileiro, a lembrarem os 60 anos do golpe de Estado que destituiu o presidente João Goulart da presidência do Brasil, dando início a 21 anos de ditadura militar.

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O Colorado, conhecido como Clube do Povo no Rio Grande do Sul, rememorou o triste episódio em tom crítico.


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“Há 60 anos, o Brasil vivia uma das datas mais tristes de sua história. Hoje e sempre, é nosso dever lembrar para jamais repetir: Ditadura nunca mais!”, afirmou o time gaúcho, em sua conta oficial no X (antigo Twitter).

Durante a ditadura, o time gaúcho teve um ex-jogador, Orandir Ortassi Lucas, conhecido como Didi Pedalada, destaque do Inter nos anos 1960 e 1970, que se tornou agente do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

A fama de Didi Pedalada seria fundamental para que esse fosse identificado como um dos agentes que sequestraram o casal uruguaio Lilián Celiberti e Universindo Rodríguez, além de seus dois filhos, Camilo e Francesca em Porto Alegre.



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A ação estava vinculada à Operação Condor, que reuniu os esforços de ditaduras do Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile) para combater opositores políticos. Didi Pedalada foi reconhecido por um jornalista, o que ajudou a dar publicidade ao ato. O caso está relatado em detalhes no livro “Operação Condor: o sequestro dos uruguaios”, do jornalista Luiz Claudio Cunha.

Há 60 anos, o Brasil vivia uma das datas mais tristes de sua história. Hoje e sempre, é nosso dever lembrar para jamais repetir: Ditadura nunca mais! #DemocraciaSempre #ClubeDoPovo pic.twitter.com/VThyeaLntm

— Sport Club Internacional (@SCInternacional) April 1, 2024

Arquirrival do Inter, o Grêmio ignorou a data mesmo tendo sido o pioneiro a ter uma torcida que foi reprimida pela ditadura militar. A Coligay, que existiu entre 1977 e 1983, foi a primeira torcida organizada gay do Brasil. O grupo, que contava com advogados para defendê-lo, foi vigiado pela Delegacia de Costumes da época.

Vasco

O Vasco da Game destacou seu repúdio à ditadura lembrando a música “O bêbado e o equilibrista”, composta por Aldir Blanc, torcedor do clube, que morreu de Covid-19 em 2020.

A letra lembra fatos daquela época: “Meu Brasil/ Que sonha com a volta do irmão do Henfil/ Com tanta gente que partiu/ Num rabo de foguete/ Chora/ A nossa Pátria mãe gentil/ Choram Marias e Clarisses/ No solo do Brasil.”

O irmão do cartunista Henfil era o sociólogo e ativista Herbert de Sousa, que esteve exilado durante a ditadura e retornou ao país com a abertura política, em 1979. Já Maria e Clarisse eram respectivamente esposas do operário Manuel Fiel Filho e Vladimir Herzog, ambos torturados e mortos pela repressão política.

Que a democracia seja sempre um valor inegociável.

Ao som do ilustre vascaíno Aldir Blanc.https://t.co/JftUo7RmfR#VascoDaGama

— Vasco da Gama (@VascodaGama) March 31, 2024

Bahia

O Bahia, clube conhecido por posicionamentos políticos nos últimos anos, exibiu no X um cartaz exaltando a democracia e lembrando os 60 anos do golpe de Estado. Entre as hashtags exibidas pelo Tricolor de Aço está Nunca Mais, conhecido slogan argentino para repudiar a ditadura local, que também foi utilizado no Brasil, pelos opositores do regime militar.

Galo ausente

O Atlético-MG tem como seu principal ídolo na história o artilheiro Reinaldo, astro do clube nos anos 1970 e 1980.

O atacante ficou conhecido por comemorar gols com os punhos cerrados, imitando gesto dos Panteras Negras, que ficaram famosos no mundo esportivo pelo protesto dos velocistas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, no pódio dos 200 m nos Jogos do México 1968.

Reinaldo usava esse gesto para mostrar seu repúdio à ditadura militar. Foi o que fez na Copa do Mundo de 1978, quando marcou o gol de empate do Brasil contra a Suécia.

Ativista político até os dias de hoje, recentemente Reinaldo foi o principal nome em campo em amistoso para lembrar os cinco anos da tragédia de Brumadinho, quando o rompimento de uma barragem da Vale deixou 272 mortos.

Apesar de toda essa identificação com a oposição à ditadura militar, o Galo deixou passar em branco a data.

Ceará esquece

O Ceará foi o clube em que jogou Nando, irmão de Zico e único jogador de futebol conhecido que foi preso e torturado durante a ditadura militar. Nando havia participado do Programa Nacional de Alfabetização (PNA) durante o governo de João Goulart. A iniciativa utilizava o método Paulo Freire, patrono da educação brasileira, para alfabetizar adultos.

Após o golpe de Estado, Nando se viu acuado e decidiu tentar a carreira no Ceará. O bom desempenho por lá lhe rendeu a contratação pelo Belenenses, em 1968. Em Portugal acabou perseguido por agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide), órgão repressivo de outra ditadura, de Antonio Salazar.

Nando decidiu voltar ao Brasil, mas acabou preso no Rio de Janeiro. Ele acredita que a perseguição a ele se estendeu aos irmãos Edu, que deixou de ser convocado para a Copa do Mundo de 1970, e Zico, que mesmo sendo o principal jogador da seleção olímpica não foi chamado para os Jogos de Munique 1972.

Zico quase desistiu da carreira por causa dessa frustração. Sem ele, o Brasil acabou em último lugar no Grupo C das Olimpíadas, que tinha também Hungria, Dinamarca e Irã. Os húngaros acabaram com a medalha de prata.

Mesmo com esse histórico de ter tido como destaque nos anos 1960 o único jogador brasileiro preso pela ditadura militar, o Ceará ignorou os 60 anos do golpe.

Democracia Corintiana

Maior ídolo do Corinthians nos anos 1980, Sócrates ficou conhecido por sua oposição ao regime militar e por liderar o movimento da Democracia Corintiana, juntamente com Casagrande e Wladimir.

Ficou famosa a faixa utilizada pelo time na entrada ao gramado para enfrentar o São Paulo na final do Paulistão de 1983: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. Na ocasião, o Corinthians ganhou o bicampeonato estadual, após vencer por 1 a 0, gol de Sócrates.

Apesar dessa ligação forte com o movimento das Diretas Já!, que pedia, em 1984, eleições livres para presidente do Brasil, o Corinthians foi outro clube a ignorar os 60 anos do golpe de Estado.

Nesta segunda-feira, porém, o time do Parque São Jorge resgatou o tema com atraso, ao destacar a inauguração da rua Sócrates, na capital francesa, próximo ao local da Vila Olímpica dos Jogos de Paris 2024.

“No último fim de semana, a Rua Dr. Sócrates, na Vila Olímpica de Paris, foi inaugurada! Uma honra acompanhar o legado do Dr. sendo espalhado ao mundo por meio de seus ideais. Um craque da bola, um ídolo corinthiano, um ídolo do Brasil!”, escreveu o clube no X no dia 1º de abril, que além de ser o Dia da Mentira também é chamado por críticos da ditadura como o verdadeiro dia do golpe de Estado de 1964.

Entre as hashtags da postagem do Corinthians está o Ditadura Nunca Mais, um dos principais slogans que havia sido compartilhado nas redes sociais na véspera (31 de março).

Homenagem mais do que merecida ao nosso eterno Doutor Sócrates!

No último fim de semana, a Rua Dr. Sócrates, na Vila Olímpica de Paris, foi inaugurada! Uma honra acompanhar o legado do Dr. sendo espalhado ao mundo por meio de seus ideais. Um craque da bola, um ídolo… pic.twitter.com/9awHnhiEbj

— Corinthians (@Corinthians) April 1, 2024

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Corinthians rememora data com atraso, ao destacar homenagem a Sócrates, líder da Democracia Corintiana, em rua de Paris
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