Despedida de Diego Ribas: Uma aula alemã

Nos últimos seis meses, tive a oportunidade de participar in loco de um dos maiores projetos (se não o maior) que já vi de valorização a um ídolo e fortalecimento de sua imagem junto ao torcedor.

“Ah, Bernardo, você está falando isso porque você estava lá”. Não. Estou falando isso diante da percepção que tiveram os grandes atletas convidados para o evento.


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Mas, afinal, o que rolou em Bremen, na Alemanha, no último dia 22 de março?

Para começar essa história, preciso voltar 15 anos no tempo.

Diego Ribas, um moleque no alto dos seus 22 anos, recém-campeão brasileiro pelo Santos e campeão mundial pelo Porto em seu segundo ano em Portugal, viu as coisas saírem do eixo quando, após uma derrota, o treinador resolveu mudar a forma do time jogar, decidindo que seguiria sem um camisa 10. E avisou ao atleta que ele poderia buscar um novo clube.



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Foi nessa hora que começou a relação do meia com o Werder Bremen, clube alemão de porte médio localizado na cidade de Bremen, porém com uma estrutura muito boa e com a ambição de buscar algo grande na Alemanha e na Europa.

O clube já havia tentado comprar Diego direto do Santos e, então, voltou à mesa em 2006 para tirar o craque de Portugal.

Dali em diante, foram três anos que os alemães definem como sendo de pura magia. Por isso, o apelido de “Mágico”.

Diego liderou o time com belíssimos gols, dribles, assistências e atuações memoráveis, com destaque para o gol do meio-campo que voltarei a falar um pouco mais à frente.

Em campo, era aquela irreverência e aquela leveza que nós, brasileiros, sempre gostamos de ver. Passe de letra, de costas, balãozinho, golaços de falta e muito mais.

Diego se destacou em campo e atraiu os holofotes da Europa para um clube que não estava acostumado com essa grandeza.

Nesse período, para se ter uma noção, ele foi listado entre os 20 melhores jogadores do mundo pela Fifa e eleito o melhor jogador da Bundesliga.

Durante os três anos dele no Werder, Diego nunca perdeu um jogo para o Bayern de Munique. Inclusive ganhou de 5×1 na Allianz Arena com gol e assistência.

O time brigava de igual para igual com Real Madrid, Barcelona e muitos grandes da Europa, jogando o fino da bola.

E isso foi fundamental para o fortalecimento da imagem do Diego, que liderava, portando a camisa 10, as belas atuações do clube. Na cabeça do torcedor, aquele “Mágico” estava apresentando o time e a cidade para o mundo.

Diego deixaria o clube três anos depois, em 2009, vendido para a Juventus por nada menos que € 24,5 milhões, em um contrato de cinco anos.

No Werder Bremen, foram 137 jogos e 55 gols, além dos títulos da Copa da Liga Alemã 2006 e da Copa da Alemanha 2008/2009.

Enfim, era necessário contar tudo isso para que todos pudessem entender o contexto e o porquê de Diego ser tão amado pelos alemães.

O meia terminou seu ciclo como atleta profissional no final de 2022. Desde que havia saído do Werder Bremen, não havia voltado à cidade, nem para visitar o clube. Mesmo assim, quando surgiu a ideia de fazermos uma partida de despedida, o clube prontamente se disponibilizou a organizar tudo, ficando com Diego apenas a missão de convidar as lendas do Time Diego.

Precisávamos, então, de uma Data Fifa para que não tivéssemos concorrência com o calendário do futebol. E por isso definimos o dia 22 de março para o evento.

Em janeiro, Diego viajou para a Alemanha para o “media day”. Fotos, vídeos, imprensa, etc. Houve captação de material durante três dias para maximizar o jogo na mídia, faltando três meses para a partida.

Com o projeto lançado, a venda de ingressos foi iniciada e, em 48 horas, 80% dos bilhetes já estavam esgotados. O clube, então, parou a venda momentaneamente e aumentou o preço para os lotes finais, que também esgotaram.

Outra iniciativa foram os produtos licenciados. Não só a camisa de jogo feita com a Hummel, mas uma série de produtos foram criados para potencializar a receita do projeto. O clube colocou 10 mil camisas temáticas oficiais à venda, com menção ao gol do meio-campo e todas elas foram comercializadas, superando muito as expectativas do clube.

O valor da venda foi o mesmo da camisa oficial usada pelo time em 2025, ou seja, € 99. Fazendo uma conta rápida, o evento gerou quase € 1 milhão (mais de R$ 6 milhões) só com venda de camisas.

Aqui, no entanto, vale um adendo. Não adianta fazer a conta que muitos fazem (valor da camisa x quantidade vendida), pois em boa parte da relação dos clubes com as empresas de material esportivo, o ganho é na porcentagem de royalties em cima dessa venda. Para maximizar o faturamento, o clube acaba lançando camisas de malha, em que o ganho de royalties é relativamente maior.

Entre os outros produtos, foram vendidos copos, canecas, bonés, cachecóis e chaveiros, só para falar alguns, tudo temático e dentro do projeto “Obrigado Mágico”.

Para se ter uma ideia da capacidade de monetização, a rede do gol da partida foi recortada para a produção de chaveiros e pulseiras com a marca do projeto.

Bom, chegamos à cidade e fomos recebidos com carros adesivados com o nome do Diego. Parece bobagem, né? Mas são os detalhes que sempre me encantam. Carros luxuosos com os dizeres “VIP Diego Ribas Shuttle” receberam todos os atletas envolvidos com o evento.

No caminho para o hotel, percebemos mobiliários urbanos com a divulgação da partida. Ou seja, investimento em mídia para potencializar o projeto. Nesse caso, imagino que seja até uma parceria que o clube tenha com uma empresa de mídia da cidade.

No dia seguinte à nossa chegada, fomos ao estádio para uma “Signing Session”. Diego precisava autografar cerca de 300 camisas e 1 mil cards para fãs que haviam comprado esse item e, claro, para os patrocinadores que receberiam essa contrapartida.

A coletiva de imprensa foi segmentada. Primeiro, Diego falou apenas para os jornalistas alemães, depois houve uma sessão exclusiva para a imprensa internacional.

E a programação do dia não parou por aí. À noite, tivemos um jantar com os sócios-torcedores da categoria mais premium do Werder Bremen em um barco temático do clube. Ali, rolou um bate-papo com Diego e Thomas Schaaf, treinador do time à época, e, logo após, houve ainda uma sessão de fotos com todos os participantes.

Vamos para o jogo. Diego atuou o primeiro tempo no Diego International Team, que contou com Júlio César, Cafu, Júlio Baptista, Naldo, Josué e Nani, entre outros. E o segundo tempo no Werder Bremen Legends.

No final da partida, deu-se início a um espetáculo de exaltação a um ídolo. Luzes apagadas, vídeos de grandes nomes do futebol mundial no telão e, após Ronaldo Fenômeno, o último, finalizar seu vídeo, uma grande surpresa: um boneco iluminado de 8 metros de altura entrou em campo para recriar o gol histórico que o meia fez contra o Karlsruher. Ele parou a bola exatamente no local de onde Diego chutou em 2008, e o estádio explodiu de alegria. Quando a bola entrou no gol, fogos e mais fogos ecoaram, com “Obrigado Diego” nos telões.

Foi uma cena que emocionou a todos que estavam por lá.

Para encerrar, ainda houve um grande evento para patrocinadores, diretoria e atletas para celebrar aquela noite mágica.

Termino destacando que tudo foi um grande aprendizado. Temos diversos atletas que podem ter um momento e uma festa dessas em clubes que marcaram suas carreiras, mas, para isso, o clube precisa acreditar e não poupar esforço, tempo e dinheiro para fazer algo realmente grande. Se pensar dessa forma, o torcedor entenderá que é algo de impacto e certamente não se perdoará caso fique de fora.

O Werder Bremen enxergou o projeto como um investimento, e não como um custo. Essa, aliás, é a frase que define a viabilidade de um projeto como esse.

Boa parte dos leitores da minha coluna sabem um pouco da minha trajetória. Por onde passei, sempre tive muita dificuldade com algumas iniciativas que gerariam receita em um segundo momento, mas dependiam de uma injeção do clube para começar.

Sem esse pontapé inicial, infelizmente, muitas ideias acabaram morrendo já na largada.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas

Werder Bremen deu uma verdadeira aula de valorização ao ídolo e principalmente de fortalecimento da imagem dele junto ao torcedor


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