Já se passaram mais de 60 anos desde eclosão dos primeiros grandes movimentos pelos direitos civis dos homossexuais, com destaque para a pioneira “Rebelião de Stonewall”, ocorrida em 1969, em Nova York, nos Estados Unidos.
De lá para cá, muita coisa mudou no mundo. A homossexualidade e outras formas de sexualidade e de identidade de gênero deixaram de ser tratadas como doença ou crime, em grande parte dos países, especialmente no Ocidente.
A própria sigla LGBTQIAP+ passou a ser adotada, como forma de incluir diferentes forma de existir e sentir.
Diversas nações adotaram legislações e jurisprudências que não apenas reconhecem os direitos das LGBTQIAP+, como também endurecem a punição para quem pratica discriminação ou violência contra esse público.
O futebol, porém, às vezes ainda aparenta ser um mundo à parte, que tem dificuldade para aceitar os novos ventos da sociedade.
Pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em 2022, em parceria com a ONG All Out e as Havaiana, mostra que 9,3% dos brasileiros se declaram LGBTQIAP+, o que equivale a 15,5 milhões de pessoas acima de 16 anos.
A tendência é que esse número seja maior, já que, em determinados contextos, indivíduos encontram mais dificuldade para expressar sua orientação sexual ou de gênero.
E como estamos no “País do Futebol”, não é exagero concluir que muitas das pessoas (muitas mesmo) que se enquadram na sigla LGBTQIAP+ gostam desse esporte, assistem aos jogos pela TV e frequentam estádios. Muitos desses torcedores, inclusive, vibram e choram pelo seu time (sim, de você, que lê este texto).
No futebol brasileiro, porém, esse público de milhões de pessoas, todas consumidoras em potencial, ainda é invisibilizado e, não raramente, hostilizado, especialmente nos jogos, que são o ponto alto do espetáculo.
Questionado se os estádios brasileiros poderiam, hoje, ser considerados seguros para os torcedores LGBTQIAP+, Pedro Brienza, repórter sênior do Peleja, é taxativo: “Para quem frequenta, a resposta é não. O fato de existirem coletivos para esses torcedores se sentirem seguros é uma prova de que o ambiente não é acolhedor”, diz o profissional.
Na semana passada, ele concedeu entrevista à Máquina do Esporte, para tratar de uma experiência pioneira o mundo, que ousou enfrentar o preconceito e a discriminação nos estádios da “Pátria de Chuteiras”.
Em parceria com a Netshoes, o Peleja lançou no YouTube o documentário “Por que essa torcida mete medo em quem odeia gays”.
A produção resgata a história da Coligay, primeira torcida organizada LGBTQIAP+ não apenas do Brasil, mas do mundo.
Levar animação às arquibancadas do Grêmio
A Coligay surgiu em Porto Alegre (RS), no fim dos anos 1970, em plena Ditadura Civil-Militar, que àquela altura, começava a caminhar para o processo de abertura, mas ainda exercia forte repressão, especialmente contra minorias, como a comunidade LGBTQIAP+.
O personagem central dessa história contada pelo documentário do Peleja e da Netshoes é Volmar Santos, fundador da Coligay e torcedor apaixonado do Grêmio.

Nascido em Passo Fundo, ele se mudou a Porto Alegre para tentar a sorte como cantor. Passou a trabalhar numa boate chamada Flowers, voltada ao público gay e, em pouco tempo, criou sua própria casa noturna, batizada de Coliseu. Foi ali que a ideia da torcida surgiu.
“A Coligay é um movimento muito independente. Volmar era gremista e resolveu criar a torcida por achar que os jogos do time estavam pouco animados. E assim ele convidou os amigos, que eram o público que frequentava a boate”, explica Brienza.
A Coligay existiu de 1977 a 1983 e, segundo o jornalista, costumava reunir entre 30 e 40 integrantes, nos jogos do Tricolor Gaúcho.
Esse período coincidiu com uma das fases mais vitoriosas da história do clube, que culminou com as conquistas da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes de 1983.
Por mais que a presença da organizada no antigo Estádio Olímpico pudesse chocar parte dos torcedores, os integrantes da Coligay conseguiram superar as hostilidades e fizeram valer seu direito de torcer pelo time do coração.
“Eles tinham muita animação e carisma e, além disso, estavam presentes em todos os jogos, apoiando o clube. Então, de certa forma acabaram conquistando o respeito do restante da torcida”, diz Brienza.
Além do resgaste histórico, o documentário busca promover uma reflexão sobre a homofobia nos tempos atuais.
“Na montagem buscamos fugir do formato engessado para dar voz a quem viveu e construiu essa trajetória, como o Volmar Santos, fundador da torcida, que fomos até Passo Fundo entrevistar. Mas também achamos importante mostrar como os ecos da Coligay seguem vivos, trazendo a história da Quetelin Rodrigues, a Queki, gremista que hoje frequenta a Arena do Grêmio com a namorada, sem medo algum”, explica a roteirista Julia Ferratoni.
Em tempos recentes, vale lembrar, o Grêmio tem procurado recuperar a memória de Volmar Santos. Em 2023, por exemplo, conforme mostrou a Máquina do Esporte, o clube homenageou ou fundador da Coligay, em um post relacionado ao Dia do Orgulho LGBTQIAP+.
Na visão de Brienza, a atitude do Tricolor Gaúcho em relação ao histórico torcedor é positiva, mas ele acredita que as iniciativas poderiam ir além.
“O resgate ainda não está à altura. Respeito o passo que o clube tenta dar. Mas o tratamento deveria ser muito mais incisivo”, avalia.
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Filme do Peleja, em parceria com a Netshoes, resgata história da torcida do Grêmio criada por homossexuais, nos anos 1970
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