Fifa “rebaixa” seus antigos Mundiais para valorizar a edição de 2025

O futebol é um esporte movido pela paixão dos torcedores. E quando o sentimento aflora em demasia, é natural que surjam discussões acaloradas. No Brasil, um dos temas que mais rendem debates intermináveis diz respeito a quais times poderiam ser considerados campeões mundiais.

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Aqui nem estamos falando da Copa Rio, que teve sua primeira edição realizada em 1951. Ou da International Soccer League, torneio realizado em Nova York, no ano de 1960, sob a supervisão da própria Federação Internacional de Futebol (Fifa), e que acabou sendo vencido pelo Bangu, que até hoje se considera campeão do mundo.


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Nos últimos anos, um argumento infalível utilizado por torcedores de determinados clubes vinha sendo apelar para a lista dos vencedores do Mundial de Clubes promovido anualmente pela entidade máxima do futebol, que teve sua primeira edição realizada no Brasil, em 2000, e, depois de um hiato de três anos, foi retomado a partir de 2005, ocorrendo de maneira ininterrupta até o ano passado.

Apenas três brasileiros venceram essa competição: Corinthians (2000 e 2012), São Paulo (2005) e Internacional (2006). Os demais representantes do país ou ficaram com o vice-campeonato ou caíram na fase eliminatória, diante de clubes da Ásia, África ou América do Norte.

Campeão da Copa Libertadores 2024, o Botafogo conquistou o direito de disputar, ainda neste ano, uma competição que reunirá participantes de todos os continentes do planeta. Mas, como bem observa a sabedoria popular, há coisas que só acontecem com a Estrela Solitária.



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Ainda que consiga quebrar esse jejum de títulos para o Brasil, que já dura 12 anos, o Glorioso não será, tecnicamente, campeão mundial.

Isto porque a competição que ele disputará é a Copa Intercontinental. Nesse torneio, que foi estruturado em formato um pouco mais rápido, o Real Madrid já está garantido na final. O Botafogo, porém, se quiser chegar à decisão, terá de derrotar o Pachuca, do México, na próxima quarta-feira (11).

O vencedor dessa partida enfrentará o Al-Ahly, do Egito, que levou a melhor na disputa contra o Al-Ain (Ásia) e Auckland City (Oceania), classificando-se para a semifinal. Mas o que leva um torneio que reúne representantes de todos os continentes a não ser chamado de Mundial?

A explicação está no marketing: a Fifa sabe do poder simbólico das palavras e resolveu resguardar a palavra “Mundial” para o torneio que ela própria realizará nos Estados Unidos, de 15 de junho a 13 de julho, reunindo 32 clubes, entre eles os brasileiros Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras.

Antes de zombar do Botafogo, que pode ficar sem “Mundial”, mesmo que venha a conquistar um torneio idêntico ao que vinha sendo realizado até 2023, convém analisar mais a fundo a narrativa que a Fifa tem construído, dentro da estratégia para valorizar o novo torneio.

Sem grande alarde, a entidade máxima do futebol acabou por “rebaixar” de status os próprios Mundiais que ela vinha organizando anualmente. Agora, todas essas edições são consideradas parte da trajetória da Copa Intercontinental.

Ressignificando as competições

O nome de uma competição oficial não é simplesmente um conjunto de palavras, mas sim uma marca, que movimenta quantias enormes em dinheiro. No caso do novo Mundial de Clubes da Fifa, por exemplo, ele garantiu contratos vultuosos com patrocinadores como Bank of America, Hisense, Tiffany e AB Inbev.

Nesta semana, o DAZN fechou com a Fifa um acordo de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões), pela exclusividade global dos direitos de transmissão do torneio. Será que a plataforma de streaming pagaria essa quantia por algo que fosse descrito como a continuação do Mundial que vinha sendo realizado anualmente pela entidade, até 2023?

Não por acaso, os comunicados e declarações oficiais da Fifa e de seus dirigentes fazem questão de frisar esse suposto ineditismo da competição.

“A nova Copa do Mundo de Clubes da Fifa é um torneio inclusivo e baseado no mérito que será o auge do futebol global de clubes, capturando a imaginação de jogadores e torcedores em todo o mundo”, afirmou Gianni Infantino, presidente da entidade, ao oficializar o acordo com o DAZN.

Referir-se ao torneio como novo foi uma forma encontrada pelo dirigente para apartá-la da tradição do Mundial que vinha sendo realizado até agora. Já o uso de termos como “inclusivo” e “baseado no mérito” foi um meio de se contrapor à Superliga Europeia, torneio de elite que equipes como Barcelona, Real Madrid e Juventus tentam articular, reunindo as principais equipes do Velho Continente.

Alguém poderá argumentar que as palavras do presidente da Fifa não necessariamente diminuem o torneio promovido até 2023. Uma consulta ao site da entidade ajuda a dirimir as dúvidas.

Quem acessar o site em português encontrará uma única seção dedicada a Mundial. Ela se refere justamente à competição com 32 clubes, que será realizada no ano que vem. Nesse espaço, não há qualquer menção a edições anteriores da competição. Além disso, é repetida reiteradamente a informação de que essa será “a primeira edição do novo torneio global”.

Informações sobre o antigo Mundial de Clubes só estão disponíveis na seção relativa à Copa Intercontinental, no texto que explica a história e formato do torneio. Em um parágrafo relativo ao Catar, país-sede da competição deste ano, a Fifa afirma que o país teria recebido “com sucesso duas edições do torneio anual – em 2019 e 2020”.

Ou seja, embora torcedores rivais tenham zombado de flamenguistas e palmeirenses pelas derrotas nessas duas edições, pela atual interpretação da Fifa os dois clubes não teriam perdido o Mundial, mas sim o Intercontinental.

Mundial ou Intercontinental?

Um dado curioso é que a denominação Copa Intercontinental passou a ter seu uso difundido no Brasil a partir dos anos 2000, com a criação do Mundial da Fifa.

Até essa época, por aqui predominava o nome “Mundial Interclubes”, para se referir à disputa anual entre os campeões da Copa Libertadores e da Taça dos Campeões (atual Champions League).

Essa disputa envolvendo europeus e sul-americanos teve início em 1960, com as equipes se enfrentando em jogos de ida e volta (com direito a uma terceira, para desempate, em alguns casos) para definir o campeão mundial.

A verdade, porém, é que a partir da segunda metade da década de 1970, diversos campeões europeus, como Bayern de Munique, Liverpool e Nottingham Forest optavam por não participar da disputa. A vaga na decisão acabava ficando, quase sempre, com o vice da Taça dos Campeões. Ou às vezes a disputa nem era realizada, como ocorreu em 1975 e 1978.

A situação mudaria a partir de 1980, quando o Japão resolveu investir pesado para popularizar o futebol no país, em um projeto que culminaria em sua candidatura para sede da Copa do Mundo, o que de fato se concretizou em 2002 (ao lado da Coreia do Sul). A montadora Toyota passou a investir na competição, adquirindo inclusive seu naming right.

A partir de então, a União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) passou a obrigar todos os clubes que disputavam a Taça dos Campeões a se comprometerem a jogar a decisão da Copa Toyota, realizada no Estádio Nacional de Tóquio, no Japão, anualmente no mês de dezembro.

Mesmo em 2000, quando a Fifa realizou a primeira edição de seu Mundial, vencida pelo Corinthians, a Copa Toyota continuou a ser realizada. Naquele ano, o campeão foi o Real Madrid, derrotando o Boca Juniors.

A entidade tinha projeto de realizar a segunda edição do Mundial de Clubes em 2001, reunindo representantes dos cinco continentes.

O torneio ocorreria na Espanha. Porém, a International Sport and Leisure (ISL), empresa de marketing esportivo encarregada de organizar a competição, acabou falindo e a segunda edição não foi realizada naquele momento.

Com isso, apenas em 2005 a Fifa retomaria seu Mundial de Clubes, curiosamente em parceria com a montadora japonesa, que abriu mão de promover a Copa Toyota e em troca assumiu como sponsor title do torneio.

Afinal, quem é campeão mundial?

O site da entidade traz outro trecho curioso relativo ao seu antigo Mundial de Clubes. “Desde que foi lançada pela primeira vez – como Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, em 2000 – a Copa Intercontinental da Fifa se desenvolveu para se tornar o principal torneio global anual de clubes, com os vencedores ostentando a coroa de campeões mundiais pelo próximo ano”, afirma o texto.

Significa, então que, os ganhadores do antigo Mundial de Clubes não podem mais bater no peito e dizer que são campeões mundiais? Muito pelo contrário.

Por enquanto (mas não sabemos até quando), o site da Fifa informa que, em outubro de 2017, o Conselho da entidade aprovou um requerimento reconhecendo como campeões mundiais todos os times europeus e sul-americanos que ganharam a Copa Intercontinental (aquela disputa apenas entre os vencedores da Libertadores e da Champions).

Dessa forma, hoje a Fifa ainda considera campeões mundiais os clubes que venceram a Copa Intercontinental (ou Mundial Interclubes) de 1960 a 2004 e todos os que ganharam o Mundial de Clubes de 2000 a 2023. Para saber se seu time está na lista, clique neste link. Não se esqueça de tirar um print, pois nunca sabemos se isso será uma verdade oficial no dia de amanhã.

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Torneios anuais de clubes realizados pela própria entidade agora são tratados como edições da Copa Intercontinental
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