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Em um mundo cada vez mais tomado pelo caos e pelas forças do imponderável, poucas certezas restam à humanidade.
Uma delas é de que clubes brasileiros de futebol sempre tentarão aproveitar as datas ligadas a questões sociais para obter engajamento nas redes.
Nessas ocasiões, todos fazem questão de “bater o bumbo” com força, chamando a atenção dos incautos para o compromisso inabalável da instituição esportiva para com as causas humanitárias e transformadoras.
Foi assim nesta sexta-feira (21), data em que é celebrado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Diversos times, entre eles o Flamengo, resolveram publicar posts sobre a efemeridade, que foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em alusão ao Massacre de Sharpeville, ocorrido em 21 de março de 1960, no bairro de mesmo nome, localizado na cidade sul-africana de Joanesburgo.
Nesse dia, cerca de 20 mil pessoas saíram às ruas para protestar contra a Lei do Passe, instituída pelo regime do apartheid, que vigorou na África do Sul até 1994, e que obrigava a população negra a portar cadernetas, nas quais eram estipulados os locais onde cada indivíduo poderia ir. A repressão violenta do regime racista do país aos manifestantes resultou em 69 mortes e 180 feridos.
Muita coisa mudou na África do Sul e no mundo, desde 1960. Quando esse massacre ocorreu, não havia redes sociais, mas já existiam meios de comunicação de massa. Porém, não consta que nenhum clube, atleta famoso ou organização esportiva tenha se solidarizado com as vítimas do massacre ou mesmo se indignado com o racismo que vigorava no país.
Hoje, além de contarem com espaços em que podem se comunicar com milhões de pessoas, os clubes usam essas plataformas para dizer que apoiam causas sociais.
Se o mundo e a forma de se comunicar mudou, a postura da audiência e dos fãs diante das mensagens também se transformou. E o Flamengo e outros grandes clubes tiveram a oportunidade de experimentar esse fato, ao tocarem na questão da discriminação racial.
Clube é cobrado por não assinar nota de repúdio
No caso específico do Flamengo, seu post sobre o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial veio logo depois de o clube optar por não assinar a nota de repúdio elaborada pelos times da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), bloco do qual a equipe rubro-negra (ainda) faz parte.
A comparação dos brasileiros à macaca, feita pelo dirigente, ocorreu dias depois de o atacante Luighi, do Palmeiras, sofrer racismo em uma partida contra o Cerro Porteño, válida pela Copa Libertadores sub-20.
Na nota, a Libra, que representa nove clubes da Série A do Brasileirão, disse que “a gravíssima declaração de Domínguez traz à tona o evidente preconceito enraizado no ambiente do futebol, reforça estereótipos racistas, perpetua a desumanização de pessoas negras, além de demonstrar total insensibilidade em relação a temas de extrema urgência, como o combate ao racismo e a promoção da diversidade no futebol”.
Conforme noticiou a Máquina do Esporte, a ausência do Flamengo entre os signatários da nota expõe um racha na Libra. A atual diretoria do clube de maior torcida do país tem demonstrado insatisfação com a divisão de receitas entre os times do bloco.
Luiz Eduardo Baptista, novo presidente do Flamengo (conhecido popularmente como BAP), já deixou pública sua insatisfação com o contrato de TV assinado com a Globo para o período entre 2025 e 2029. O dirigente reiterou que o clube irá cumpri-lo, mas lamentou perdas financeiras.
Como forma de tentar compensar parte desse revés, o Flamengo decidiu vender seus direitos internacionais de TV isoladamente. Pela Lei do Mandante, o time rubro-negro detém os direitos de mídia de seus 19 jogos em casa.
A publicação do Flamengo consiste em um carrossel, que traz fotos de torcedores pretos e pardos no estádio e versos de exaltação à negritude, de compositores negros identificados com o clube, como “Negro é lindo”, de Jorge Ben Jor, ou “Negro é a raiz da liberdade”, de Dona Ivone Lara. Mas os fãs não se deixaram levar por essa abordagem lúdica da problemática.
A ausência do clube na nota de repúdio repercutiu mal entre seus seguidores, que inundaram os comentários do post com críticas aos dirigentes rubro-negros.
“Por essa nem o roteirista de ‘The Office’ esperaria depois da pataquada do BAP”, afirmou um seguidor. Outro se referiu à postagem como “marketing”. E outra ainda classificou como lamentável a decisão do clube de não assinar a nota contra o racismo.
Cobranças para quem assinou a nota
Vale lembrar que a nota de repúdio da Libra não propõe nenhuma medida concreta em relação à Conmebol. Diversos signatários da nota já deixaram claro que estão ansiosos para estrear na Copa Libertadores deste ano.
Mesmo times que, de maneira individual, têm defendido medidas mais concretas em relação ao racismo, acabaram sendo cobrados pela falta de um posicionamento mais firme em relação a Domínguez.
O São Paulo, por exemplo, aproveitou a data para publicar nas redes um carrossel defendendo a proposta de retirar três pontos das equipes envolvidas em casos de racismo.
“Nesta sexta-feira (21), Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, o clube enviou à Fifa e à Conmebol um documento com algumas propostas de punições”, diz a legenda do post.
Mas a menção à Conmebol fez com que diversos torcedores passarem a questionar o clube, por uma postura mais enérgica em relação à entidade presidida por Alejandro Domínguez.
“E a punição à entidade que é conivente? Que punição a Fifa adota?”, questionou um seguidor, no Facebook. “Entidade que considera o Brasil a ‘Chita’ do Tarzan, fazer algo em prol?”, perguntou outro. “Os clubes brasileiros e os torcedores deveriam se unir e boicotar esse torneio, para ele [Domínguez] sentir no bolso”, escreveu um torcedor.
O post Flamengo faz post sobre Dia Contra a Discriminação, um dia após silenciar sobre fala racista de presidente da Conmebol apareceu primeiro em Máquina do Esporte.
Seguidores criticaram clube, que optou por não assinar nota de repúdio da Libra, por conta de divergências com membros do bloco
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