O ano de 2026 chega com um paradoxo já conhecido, mas nunca simples de administrar: enquanto a Copa do Mundo direciona quase todos os holofotes do esporte brasileiro para o futebol, as modalidades olímpicas somem da visão do mercado publicitário, do patrocínio e dos eventos. Esse, ao menos, era o caminho natural até agora.
Contudo, na minha visão, cresce silenciosa — e agora de forma visível — uma transformação no comportamento da audiência, abrindo espaço para que atletas de modalidades olímpicas ampliem seus negócios, sua presença midiática e seu potencial de monetização, ainda que seja um ano de futebol.
Por décadas, o futebol dominou o cenário esportivo nacional. Desde os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, disputados em 2021 por conta da pandemia de Covid-19, porém, algo mudou. E nós não apenas sentimos esse movimento, como temos dados que comprovam. O desempenho brilhante de nomes como Rebeca Andrade, Italo Ferreira, Rayssa Leal, Ana Marcela Cunha, Bruno Fratus e tantos outros atletas iniciou uma reconfiguração na atenção do público.
Essas performances não apenas capturaram resultados expressivos; elas capturaram sentimentos. Como diria a célebre frase atribuída a Maya Angelou: “As pessoas vão esquecer o que você disse, vão esquecer o que você fez, mas nunca esquecerão como você as fez sentir”. Foi exatamente essa conexão emocional, somada ao período da pandemia e da diversidade de canais de transmissão, que alavancou o interesse por modalidades fora do eixo futebolístico.
A partir desse ponto, a transformação ganhou força. A audiência esportiva se fragmentou, se diversificou e se digitalizou. As transmissões de eventos antes considerados de nicho ganharam espaço tanto na TV quanto no streaming. Plataformas digitais se tornaram verdadeiras arenas multimídia: a CazéTV impulsionou visualizações e engajamento em nível massivo; a ESPN aumentou de maneira estratégica a presença no tênis; a Globo ampliou sua cobertura de ginástica; e outros canais, como N Sports e Canal Olímpico do Brasil, investiram em vôlei, surfe, skate e lutas.
A já citada ESPN e serviços de streaming como Disney+ e Amazon Prime Video deram mais espaço e opções para quem quer ver a NBA, que é cada vez mais abraçada pelo público brasileiro que se empolga com as jogadas fantásticas da liga, entre elas as do ala Gui Santos, do Golden State Warriors, atualmente único representante do nosso país naquela que é considerada a melhor competição de basquete do mundo.
Na prática, a lógica deixou de ser “o que o público quer ver” e passou a ser “como o público quer ver”. E o público hoje quer ver tudo, em qualquer tela, a qualquer hora.
Esse novo panorama cria uma janela de oportunidades para atletas de modalidades olímpicas justamente em um ano de Copa. Em 2026, enquanto o futebol se mantém no centro da conversa nacional, marcas que buscam diferenciação, autenticidade e conexão emocional terão nos atletas olímpicos um território fértil. Trata-se de um movimento estratégico: investir em talentos que representam diversidade, brasilidade, superação e proximidade com comunidades altamente engajadas.
O patrocínio esportivo caminha para uma lógica de conteúdo constante, não apenas exposição de marca. E é aí que os atletas olímpicos brilham. Eles entregam narrativas poderosas, histórias de resiliência, frequência competitiva ao longo do ano e uma presença digital que conversa com nichos apaixonados.
Em um ambiente saturado pela cobertura da Copa, marcas que desejam relevância podem encontrar nesses atletas a oportunidade de ocupar espaços menos congestionados e construir campanhas que realmente se destacam.
Além disso, o próximo ciclo olímpico, que se encerra com Los Angeles 2028, já está impulsionando renovação, desenvolvimento e visibilidade. Atletas em ascensão chegam com resultados expressivos em Mundiais e Pan-Americanos, elevando ainda mais o potencial de mercado de cada um. Em ano de Copa, quem souber aproveitar esse “timing” estará um passo à frente.
O ano de 2026, portanto, não representa um ano de “eclipse” para atletas olímpicos, mas sim de reposicionamento estratégico. O futebol continuará sendo uma força avassaladora, mas nunca houve um momento tão favorável para transformar atenção em negócios, engajamento em valor e emoção em relacionamento de marca.
A oportunidade existe e está madura. Cabe agora aos atletas, agentes, confederações e marcas entenderem que, mesmo na sombra da Copa, há um palco pronto para ser ocupado. Porque, no fim do dia, o que move o esporte e o que move o marketing é a mesma força: a capacidade de fazer as pessoas sentirem algo real.
O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte
Danielle Von Schneider é fundadora e CEO da Agência de Atletas, empresa responsável pelo gerenciamento de carreira e imagem de atletas como Rebeca Andrade, Duda Lisboa, Rafaela Silva, Bia Souza, Ana Marcela Cunha, Gui Santos, Bruno Fratus e Alison Mamute, entre outros
O post O paradoxo da Copa chegou ao fim? apareceu primeiro em Máquina do Esporte.
Futebol continua sendo uma força avassaladora, mas nunca houve um momento tão favorável entre os esportes e atletas olímpicos para transformar atenção em negócios, engajamento em valor e emoção em relacionamento de marca
O post O paradoxo da Copa chegou ao fim? apareceu primeiro em Máquina do Esporte.
Participe da IGI Expo 2026: https://igi-expo.com/


