Os direitos de transmissão esportivos são realmente caros?

Já há algum tempo, lemos e ouvimos que o esporte está ficando caro e que os valores por direitos de transmissão estão próximos do limite ou até já passaram dele. A questão que fica é: existe realmente limite? Os números são realmente tão altos assim, e quem compra tem prejuízo? Ou as plataformas que compram veem valor no esporte?

Com a evolução do comércio eletrônico, PayRetailers inova para revolucionar o mercado de pagamentos - Startups

Antes mesmo de entrarmos na questão financeira, precisamos lembrar que o esporte é um conteúdo que fideliza. O cliente que assina uma plataforma para ver uma série, por exemplo, pode tirar um final de semana, assistir à nova temporada completa e cancelar a assinatura antes mesmo do final do primeiro mês. Já o cliente que assina para ver um campeonato de futebol não irá querer assistir a todos os jogos sob demanda apenas no final do campeonato. Ele permanecerá assinante durante todo o torneio ou pelo menos até que o time dele seja eliminado (caso das competições mata-mata) ou já não tenha mais chance matemática de título (caso das competições de pontos corridos). Portanto, o esporte consegue garantir, pelo menos aí, entre 6 e 10 meses de assinatura. E isso é levado, com certeza, em consideração no momento que as plataformas constroem os orçamentos para aquisições de conteúdo esportivo.


ReadyNow

Há cerca de duas semanas, foi anunciado o acordo da Netflix com a Fifa para os direitos de transmissão exclusivos para os Estados Unidos da Copa do Mundo Feminina de 2027, que será no Brasil, e de 2031 (ainda sem sede definida). A notícia surpreendeu o mercado, mas evidenciou novamente o poder do esporte. Sendo uma competição que dura 30 dias, a Copa até pode ajudar a gerar novas assinaturas, que poderão ser canceladas logo após o evento, mas, na minha opinião, a estratégia está justamente na possibilidade de alavancar as vendas de anúncios no plano mais básico da plataforma, que, hoje, já responde por cerca de 22% dos clientes, aumentando o valor médio justamente pelo aumento de audiência e acessos ao serviço.

Um outro exemplo é a NFL. A cada novo ciclo vemos os valores pelos direitos serem duplicados ou, como ocorreu recentemente, mais do que duplicados, saindo de um acordo de US$ 4,4 bilhões por ano para mais de US$ 10 bilhões anuais.

Os números continuam crescendo porque o faturamento das emissoras e plataformas com o conteúdo também continua aumentando. Para o Super Bowl LIX, em fevereiro de 2025, a Fox deve ultrapassar US$ 700 milhões só com a transmissão do jogo, o que equivale a pouco mais de 31% do valor que a emissora paga pela temporada (US$ 2,25 bilhões). Os anúncios para o Super Bowl já esgotaram em novembro, cerca de três meses antes da transmissão da partida, mesmo tendo um valor bastante salgado de US$ 7 milhões por 30 segundos de inserção. Isso nos ajuda a entender por que as transmissões da NFL têm tantos intervalos comerciais.



br4bet
orange gaming

iGaming & Gaming International Expo - IGI

Vale lembrar que os direitos do Super Bowl são divididos entre alguns dos parceiros da NFL e, a cada ano, o jogo é exibido em uma plataforma diferente. Em 2023, último ano em que a Fox teve os direitos da partida que normalmente é a maior audiência da TV norte-americana, a emissora faturou mais de US$ 600 milhões em apenas uma noite.

Em 2024, os direitos eram da CBS/Paramount, que, no tempo normal, já tinha faturado US$ 635 milhões. A emissora ainda “deu sorte” do duelo entre Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers ir para a prorrogação, o que lhe deu a possibilidade de faturar mais US$ 60 milhões.

Trazendo tudo isso para a realidade brasileira, o Grupo Globo continua sendo o principal veículo do futebol nacional, atualmente tendo todos os direitos ou pelo menos parte deles nas principais competições, como Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Conmebol Libertadores. A hegemonia e o apetite não são à toa, pois o futebol continua sendo o principal faturamento do grupo a cada ano. Para 2025, já são pelo menos 12 marcas que compraram espaço nas transmissões da Globo e dos canais Sportv, gerando um faturamento próximo dos R$ 2,5 bilhões. Esse valor é bem maior do que o montante que a emissora gasta na compra dos direitos.

A Record, que a partir de 2025 exibirá um jogo por rodada do Brasileirão e terá um calendário anual de transmissões, anunciou recentemente que o futebol será o principal faturamento da emissora no ano que vem, superando em duas vezes o segundo principal produto que é o Jornal da Record. O futebol também trará mais recursos do que outros produtos importantes da grade de programação, como as novelas e o reality show A Fazenda. A emissora deve ter um lucro de mais de 100% em relação ao que pagou pelos direitos (cerca de R$ 210 milhões), já que a estimativa de faturamento é de pelo menos o dobro disso, de acordo com apuração da Máquina do Esporte.

Por último, o Grupo Disney revelou recentemente o encerramento das atividades de todos os seus canais lineares na América Latina. E não é que os únicos que permanecerão ativos são os canais ESPN, justamente por conta do faturamento com assinaturas pagas pelas operadoras e anunciantes do canal esportivo?

O esporte pode até dar impressão de ser caro, mas a ideia desta coluna foi mostrar que a conta fecha, mesmo com números que parecem ser tão astronômicos. Que neste novo ano o esporte como um todo, não apenas o futebol, continue a sua rota de crescimento.

Feliz 2025 a todos!

Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

O post Os direitos de transmissão esportivos são realmente caros? apareceu primeiro em Máquina do Esporte.

Pode até ser que haja essa impressão, mas o esporte é um conteúdo que fideliza, ou seja, a conta fecha, mesmo com números que parecem ser tão astronômicos
O post Os direitos de transmissão esportivos são realmente caros? apareceu primeiro em Máquina do Esporte.