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“Foi escolha minha. Eu não me arrependo de nada do que fiz até hoje”, disse o zagueiro Thiago Silva, logo depois do jogo do último domingo (8), entre Palmeiras e Fluminense, no Allianz Parque, que livrou o clube carioca do rebaixamento no Brasileirão 2024.
Aos 39 anos (agora 40), Thiago trocou a faixa de capitão do poderoso Chelsea, da Inglaterra, para voltar ao clube que o revelou após quase 20 anos. O desembarque triunfal no Rio de Janeiro, com a torcida tricolor lotando o aeroporto com fogos e músicas às 5h30, foi digno de um grande ídolo que chegava para “escolher a camisa” na zaga então campeã da América.
Mas Thiago chegou ao fim da temporada tendo, na sua cabeça, que justificar o caminho que decidiu percorrer na reta final de sua vitoriosa carreira. Capitão dos times por onde passou, incluindo a seleção brasileira, campeão da Uefa Champions League e do Mundial de Clubes, o zagueiro abriu mão da Europa para defender seu clube de coração em uma temporada que acabou se transformando em um pesadelo.
Essa coluna é exatamente sobre isso: o lugar da emoção e do amor no mundo da razão e do dinheiro.
Ao derramar lágrimas após a derrota por 7 a 1 do Brasil contra a Alemanha na Copa de 2014, Thiago foi rotulado com desdém: chorão. Depois de atravessar o campo de joelhos, pagando a promessa que fizera para o seu Fluminense do coração não ser rebaixado, a internet não perdoou: ele quer as câmeras.
O que faz esse mundo ainda tão machista e cheio de verdades assumir que até um Monstro tão vitorioso como Thiago Silva não pode priorizar seu coração e transbordar sentimentos em suas escolhas?
Thiago Silva é reverenciado por onde passou. Quando comemorou 40 anos, no último mês de setembro, recebeu postagens de homenagens do Paris Saint-Germain, da França (358 mil curtidas); do Chelsea, da Inglaterra (chamado de “legendário”, com 537 mil curtidas); do Milan, da Itália (chamado de “um dos grandes defensores do futebol moderno, com 164 mil curtidas); e, claro, do próprio Fluminense, que saudou o fato do zagueiro “voltar a comemorar o aniversário em casa”.
Certamente Thiago Silva não voltou a Laranjeiras por dinheiro (seu destino mais óbvio, nesse caso, poderia ter sido o futebol árabe). Também não retornou para dar à família uma proximidade com sua cultura de origem, afinal todos ainda moram em Londres (e, segundo ele, a distância doeu mais nesses últimos meses de luta contra a degola).
Assim, por que incomoda tanto entender que Thiago Silva seguiu seu coração a ponto de fazê-lo se explicar após o apito final do Brasileirão? “Agora eu entendo minha missão aqui”, disse ele, na entrevista emocionada que antecedeu um post-desabafo que terminou com “Te amo, Fluminense”.
Da minha parte, fico feliz pelo zagueiro, que chegou a um momento de sua vida profissional em que pode fazer escolhas olhando para dentro, não pensando nos outros, e com a leveza de se apresentar em sua “bio” no Instagram, depois de tudo o que viveu em sua carreira, simplesmente como “Guerreiro da zaga Tricolor”.
Manoela Penna será diretora de comunicação e marketing do Comitê Olímpico do Brasil (COB) a partir de 2025 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte
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Thiago Silva escolheu a emoção e o amor no mundo da razão e do dinheiro, e é um absurdo obrigá-lo a ter que explicar isso
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