Quem é Gabriel Bortoleto, piloto que devolverá o Brasil ao grid da Fórmula 1 em 2025

Não é dúvida para ninguém que o Brasil é um dos países mais tradicionais do automobilismo mundial. Na Fórmula 1, principal categoria do esporte a motor, são oito títulos (dois de Emerson Fittipaldi, três de Nelson Piquet e três de Ayrton Senna), o que dá ao país o status de terceiro maior vencedor da história, atrás de Reino Unido (20) e Alemanha (12).

Com a evolução do comércio eletrônico, PayRetailers inova para revolucionar o mercado de pagamentos - Startups

Além disso, para muitos especialistas, o Brasil é o país onde nasceu o maior piloto de todos os tempos, o paulistano Ayrton Senna, que dominou a F1 entre o fim da década de 1980 e o começo da década de 1990 ao lado do francês e maior rival Alain Prost.


ReadyNow

Só que tudo isso não bastou para que o país tivesse um piloto titular na categoria rainha do automobilismo mundial nas últimas sete temporadas. Aliás, desde a morte de Senna, ocorrida há 30 anos, no GP de San Marino de 1994, apenas Rubens Barrichello e Felipe Massa conseguiram ter destaque na F1, ambos com 11 vitórias e o status de vice-campeões mundiais.

Com exceção dos dois, muitos nomes nacionais passaram pela categoria com pouco ou nenhum destaque, mas a situação se agravou mesmo com a aposentadoria de Massa no final de 2017. Fazia décadas que o país não deixava o grid, mas foi o que aconteceu a partir do início da temporada de 2018.

De lá para cá, apenas Pietro Fittipaldi defendeu as cores brasileiras na F1. Foram apenas duas corridas em 2020, em substituição a Romain Grosjean, após um grave acidente que quase tirou a vida do francês no GP do Bahrein daquele ano. Reserva da Haas, o neto de Emerson Fittipaldi disputou as duas últimas provas da temporada, mas, com um carro para lá de ruim, não conseguiu grande coisa.



br4bet
orange gaming

iGaming & Gaming International Expo - IGI

“Podemos falar que há um tripé que pode explicar isso. Em primeiro lugar, o Brasil fraco economicamente, com a desvalorização da moeda nacional e sem categorias de monopostos sólidas para revelar pilotos. Além disso, o funil ficou mais estreito para ingressar na F1. Nos anos dourados de Emerson, Nelson e Ayrton, eram muito mais que 20 carros, e existiam equipes pequenas que promoviam talentos emergentes. Hoje em dia, são 20 cadeiras, sendo que boa parte delas já está ‘reservada’ para pilotos pagantes”, destacou Luis Ferrari, sócio-fundador da Ferrari Promo, agência-boutique com ênfase no mercado do esporte a motor, e colunista da Máquina do Esporte.

“E, por fim, houve a entrada de ‘dinheiro novo’, ou seja, países que não chegavam perto da Fórmula 1 começaram a despontar com mais força. Nos últimos anos, vimos pilotos correndo com dinheiro russo, a Tailândia com o Albon [Alex Albon, piloto da Williams], teve indiano batendo na trave, a forte presença do interesse chinês, árabe e do próprio Estados Unidos, que eram periféricos no mundo do automobilismo”, completou.

Queda do interesse

Sem um piloto brasileiro no grid, o que já era difícil de manter após a morte de Ayrton Senna, ficou praticamente impossível: o interesse do brasileiro comum pela Fórmula 1. Nem as presenças de ídolos mundiais como Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Fernando Alonso e, mais recentemente, Max Verstappen, foram suficientes. E tudo caiu. Desde a audiência até o interesse dos patrocinadores, passando pela Globo, que decidiu deixar as transmissões no fim de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, com a Band assumindo os direitos a partir de 2021.

Claro que há exceções, como o terço final da temporada do primeiro ano da Band como dona das transmissões no mercado brasileiro. A batalha entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, que teve o britânico vencendo no Brasil e comemorando no melhor estilo Ayrton Senna, e que acabou decidida na última volta da última prova, dando ao holandês seu primeiro título mundial (com muita polêmica até hoje), é um exemplo de um momento em que a F1 voltou a gerar um pouco do brilho nos olhos do torcedor brasileiro que se via antigamente.

Mas é claro que isso não chega nem perto do interesse que a categoria pode voltar a gerar a partir do momento em que há novamente um brasileiro para torcer. A assinatura de Gabriel Bortoleto para ser titular da Kick Sauber, que, a partir de 2026, correrá como equipe de fábrica da Audi, pode novamente modificar as manhãs de domingo no mercado brasileiro.

“Este é um dos projetos mais empolgantes do esporte a motor, se não de todos os esportes. Entrar em uma equipe que combina a rica história no esporte a motor de Sauber e Audi é uma verdadeira honra. Meu objetivo é crescer com este projeto ambicioso e alcançar o topo do automobilismo”, afirmou o 32º piloto brasileiro a chegar à Fórmula 1.

A nova esperança

Mas quem é Gabriel Bortoleto?

Nascido em São Paulo (SP), em outubro de 2004, Gabriel Bortoleto Oliveira tem 20 anos. Como a maioria dos pilotos, iniciou sua carreira no kart em 2012 e foi fazer sua estreia em um monoposto em 2020, no Campeonato Italiano de Fórmula 4. De lá para cá, tudo aconteceu muito rápido.

Em 2021, o paulistano começou a disputar a Fórmula Regional Europeia. Depois, no final de 2022, passou a ter a carreira gerida por ninguém menos que Fernando Alonso, bicampeão de F1 e que ainda está na ativa aos 43 anos, pilotando para a Aston Martin.

Em 2023, foi a vez de estrear na Fórmula 3. Já no primeiro ano, Bortoleto se sagrou campeão. E, mais do que isso, assinou com o Programa de Desenvolvimento de Pilotos da McLaren, uma das equipes mais tradicionais da F1 e onde seu ídolo nas pistas, Ayrton Senna, fez história com três títulos mundiais.

A relação com Senna, aliás, é próxima. O capacete utilizado por Bortoleto é muito parecido com o do tricampeão, e o novato já correu inclusive com o famoso “S” da Marca Senna estampado.

Veio então 2024 e a chance de pilotar na Fórmula 2, o último degrau de acesso à Fórmula 1. Também em seu primeiro ano, Bortoleto novamente chamou atenção, em especial no GP da Itália, onde largou na 22ª e última posição para vencer a prova e entrar para a história como o primeiro a conseguir tal feito na F2. No momento, restando apenas duas etapas para o fim da temporada, é o líder na tabela de classificação.

O último passo foi o teste realizado com o MCL 36, carro com o qual a McLaren disputou a temporada de 2022 da F1. Os resultados de Bortoleto foram os melhores já obtidos por um novato, o que impressionou a escuderia britânica.

A partir daí, a McLaren passou a ver o brasileiro como uma séria possibilidade para ser titular da equipe em 2027 (já que Lando Norris e Oscar Piastri, os atuais titulares, têm contratos já assinados para 2025 e 2026), aceitando liberá-lo para a Kick Sauber por apenas dois anos (2025 e 2026). A Kick Sauber, por sua vez, queria tirar o brasileiro da rival e tê-lo por pelo menos quatro anos, ou seja, até 2028.

Na semana passada, a McLaren anunciou o fim da ligação com o piloto, liberando-o de seu Programa de Desenvolvimento de Pilotos no fim da atual temporada “para perseguir uma nova oportunidade na carreira dele”. Era o último empecilho sendo tirado da frente. Bortoleto será companheiro do alemão Nico Hulkenberg na Kick Sauber a partir de 2025.

“Estamos atualmente testemunhando uma mudança geracional na Fórmula 1, com jovens pilotos causando impacto imediato. Ao assinar com Gabriel Bortoleto, asseguramos um desses talentos de ponta. A contratação dele ressalta a estratégia de longo prazo da Audi e comprometimento com a Fórmula 1”, disse Gernot Döllner, presidente da Sauber.

“O Gabriel Bortoleto fez o caminho ideal, uma trajetória muito sólida no exterior, e chamou atenção de fato na Fórmula 3 e na Fórmula 2, com direito a título na estreia na primeira e a possibilidade real de título na estreia na segunda”, lembrou Luis Ferrari.

Fora das pistas

Se dentro das pistas, Gabriel Bortoleto vem sendo considerado a nova esperança do automobilismo nacional, fora delas o piloto também tem se destacado com acordos comerciais, inclusive com empresas brasileiras que já investem nele.

Atualmente, Bortoleto possui contratos de patrocínio com duas empresas nacionais, o Banco BRB (segmento financeiro) e a Porto (seguros), e outras internacionais, como Snapdragon (tecnologia), Barthelemy (moda) e Ebury (fintech especializada em câmbio e pagamentos internacionais).

“Apoiar pilotos como Gabriel Bortoleto é muito importante para a Porto. Nos últimos 79 anos, construímos a nossa essência baseada na cultura do automóvel, e a Fórmula 1 é o ápice disso. É um território extremamente relevante para nós, além de ser uma forma de contribuir para o desenvolvimento do esporte e incentivar o sonho de ver novamente um brasileiro na elite do automobilismo brasileiro”, comentou Luiz Arruda, vice-presidente comercial e de marketing da Porto.

Com a chegada à F1, a tendência é de que as renovações com essas marcas sejam naturais, e novas empresas passem a olhar para o brasileiro com outros olhos.

Além disso, a volta de um brasileiro ao grid e que poderá até brigar por vitórias (a última foi de Rubens Barrichello, pela Brawn GP, no GP da Itália de 2009) com a entrada de fato da Audi em 2026 e uma série de mudanças de regras, deve voltar a aquecer o mercado da F1 no Brasil, atraindo até os fãs saudosos dos bons tempos de Emerson, Piquet e Senna.

Some-se a isso o fato da categoria poder voltar para as mãos da principal emissora do país, a Globo, em 2026, e o combo para alavancar novamente a Fórmula 1 por aqui estará completo. O recorde de público no Autódromo de Interlagos no GP São Paulo disputado no último fim de semana e a empolgação em ver o carro que deu o bicampeonato mundial a Ayrton Senna em 1990 sendo pilotado por Lewis Hamilton deixaram claro que o amor pela categoria nunca terminou.

“Assim como os argentinos abraçaram o ‘projeto’ Franco Colapinto na Fórmula 1, existe uma corrente em torno do Gabriel, com diversas marcas. Até quem não o patrocina efetivamente, quer um brasileiro de volta à F1 porque sabe que isso é bom para o mercado. O mercado todo do automobilismo floresce quando você tem um piloto entre os 20 possíveis na principal categoria. As corridas ficam em alta, a cobertura tem mais matérias fora do nicho do esporte e por aí vai”, afirmou Luis Ferrari.

“Tomara que ele perdure na categoria por muito tempo. A gente sabe que, na Fórmula 1, é difícil de entrar, mas é muito mais difícil sobreviver ao segundo, ao terceiro ano. Então, que ele continue se desenvolvendo e possa mostrar a mesma curva de evolução e aprendizado que mostrou na Fórmula 3 e na Fórmula 2. O sucesso dele vai favorecer todo o ecossistema do esporte a motor no Brasil”, completou.

Não dá para saber se Gabriel Bortoleto tem noção do tamanho da responsabilidade que passará a carregar a partir de março de 2025 no cockpit da Kick Sauber. Mas para um piloto que conquistou tudo que conquistou até o momento, esse sucesso na principal categoria do automobilismo mundial parece realmente ser questão de tempo.

O post Quem é Gabriel Bortoleto, piloto que devolverá o Brasil ao grid da Fórmula 1 em 2025 apareceu primeiro em Máquina do Esporte.

Paulistano fechou com Kick Sauber; último representante do país a iniciar temporada como titular havia sido Felipe Massa, em 2017
O post Quem é Gabriel Bortoleto, piloto que devolverá o Brasil ao grid da Fórmula 1 em 2025 apareceu primeiro em Máquina do Esporte.