Road to Lisbon: o que o setor bancário ensina para a indústria de apostas sobre compliance e KYC

Faltando pouco mais de um mês para o SBC Summit em Lisboa, a série de podcasts Road to Lisbon contou com uma das vozes mais respeitadas do mercado brasileiro de jogos e apostas on-line: Bárbara Teles, diretora jurídica e de compliance da Stake Latam e cofundadora da Associação de Mulheres da Indústria do Gaming (AMIG).

Teles compartilhou insights sobre o painel que irá conduzir no evento, discutindo como o Know Your Customer (KYC) pode evoluir no setor a partir de experiências bem-sucedidas em outras indústrias, como o setor bancário.

Ela também abordou como a área jurídica interage com a de tecnologia e sobre o protagonismo feminino no mercado de apostas. Durante o SBC Summit, a iniciativa Women Empowerment da SBC estará mais presente do que nunca. O grupo tem foco em colocar homens e mulheres em maior posição de igualdade na indústria.

A entrevista está disponível no podcast iGaming Daily.

KYC precisa ser sob medida, e não copiado

Para Bárbara, a eficácia do KYC no setor de apostas depende de uma adaptação profunda às particularidades de cada país.

Ela citou como exemplo o caso brasileiro: apesar da diversidade de documentos de identificação aceitos em geral, apenas um número restrito deles é validado para o processo de verificação no setor de jogos on-line. Além disso, regras como o reconhecimento facial periódico ou em casos específicos, exigem tecnologia adaptada e compliance rigoroso.

“Não existe atalho para que o KYC funcione de verdade. Ele precisa entender o ambiente onde está inserido. Costumo dizer que não basta estar 100% compliant — temos que estar 120%. Há muitas camadas regulatórias e sociais a cumprir. O diferencial das empresas está justamente em conseguir traduzir isso em sistemas seguros e eficientes”, comentou.

O papel do Pix na revolução de compliance

Quando convidada a apontar setores que podem inspirar o iGaming em termos de KYC, Bárbara não hesitou: “O setor bancário é um ótimo benchmark. Olha o que fizemos com o Pix — é rápido, rastreável e seguro. Ele mostra que é possível unir agilidade e responsabilidade regulatória”.

Ela sugeriu que operadores adotem uma abordagem híbrida, com uso de análise de dados em tempo real, triagens baseadas em risco e ferramentas como reconhecimento facial, análise de documentos, listas de PEPs e políticas robustas de proteção de dados.

Se por um lado o Brasil é referência tecnológica com o Pix, por outro ainda enfrenta sérios obstáculos de acesso. Bárbara alerta para o risco de exclusão de uma parcela significativa da população em processos digitais que assumem uma infraestrutura mínima: “Nem todo mundo tem um celular com câmera boa. E isso não pode ser motivo para impedir uma pessoa de acessar uma plataforma regulamentada”.

Ela defendeu que soluções multicanais sejam incorporadas ao KYC, permitindo que o usuário escolha a forma mais acessível e segura de comprovar sua identidade: “A inclusão no compliance é também uma estratégia de negócio. Não é só questão ética”.

Mulheres estão cansadas de serem incluídas apenas em espaços “femininos”?

Um dos temas de discussão foi o quanto mulheres podem estar cansadas de serem incluídas apenas em locais de “mulheres para mulheres”. Bárbara afirmou que não vê “problema em participar de painéis exclusivamente femininos, mas o ideal é que estejamos em todos os debates. As mulheres têm competência técnica de sobra. E vejo isso acontecendo de forma cada vez mais natural”.

Ela também elogiou a iniciativa Women Empowerment, que tem ampliado a presença de especialistas mulheres nos painéis dos principais eventos da indústria.

A entrevista também abordou o papel das mulheres no setor de jogos, especialmente após a publicação da matéria na revista SBC Leaders, que destacou que quatro das cinco posições de liderança da Stake na América Latina são ocupadas por mulheres.

“Alguns anos atrás, isso seria impensável”, comentou a jornalista Ana Maria Menezes durante o podcast.

Teles concordou, mas lembrou que esse avanço foi fruto de muito trabalho: “Quando fundamos a AMIG, não sabíamos quantas mulheres atuavam nesse setor. E foi uma surpresa descobrir o tamanho dessa comunidade”.

Para ela, o avanço da regulamentação e a profissionalização das apostas no Brasil criaram um ambiente propício à mudança.

“Estamos vendo mulheres assumirem protagonismo em áreas como regulação, compliance e tecnologia. E isso inspira outras a seguirem o mesmo caminho”, comentou.

Ela conclui com otimismo, mas sem perder a lucidez: “Ainda estamos longe da igualdade plena, mas já vemos mulheres em posições importantes, participando dos grandes debates. A AMIG está aqui para apoiar esse crescimento, e eu também”.

SBC Summit: Road to Lisbon

O SBC Summit Lisboa acontece de 16 a 18 de setembro e reunirá líderes, operadores, fornecedores, reguladores e especialistas de todo o mundo. Bárbara Teles será uma das palestrantes do painel “Lições de KYC fora da indústria: o que a tecnologia pode nos ensinar?”, que propõe justamente repensar os modelos atuais de compliance a partir de benchmarks externos.

Além disso, outras lideranças femininas da Stake Latam também estarão presentes nos conteúdos da SBC Leaders, consolidando a força das mulheres na construção de um mercado mais justo, seguro e inclusivo.

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