Os ministérios da Saúde e da Fazenda acabam de lançar uma iniciativa que pode mudar de vez a relação do Brasil com as apostas online: o Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas e uma plataforma nacional de autoexclusão, que permitirá ao usuário bloquear seu CPF em todos os sites de apostas autorizados. A medida mira direto em um problema crescente: a dependência em jogos e bets e seus impactos na saúde mental e financeira das famílias brasileiras.
🎯 O que é o Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas
O Observatório nasce a partir de um Acordo de Cooperação Técnica assinado pelos ministros
Alexandre Padilha (Saúde) e Fernando Haddad (Fazenda). A proposta é criar um
canal permanente de troca de dados entre as pastas para monitorar:
- comportamentos de risco relacionados a jogos e apostas;
- impactos na saúde mental e financeira da população;
- perfil dos usuários atendidos pelo SUS com problemas ligados à compulsão em apostas;
Com isso, o governo quer transformar apostadores em pacientes visíveis para a rede de saúde,
permitindo ações de prevenção, acolhimento e tratamento de forma integrada.

🛑 Ferramenta “bloqueia-bets”: como vai funcionar a autoexclusão nacional
Um dos pontos mais bombásticos do anúncio é a criação de uma
plataforma de autoexclusão centralizada, gerida pelo Ministério da Fazenda por meio da
Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA).
Segundo o governo, a partir de 10 de dezembro:
- qualquer pessoa poderá solicitar o bloqueio do próprio CPF em todos os sites de apostas autorizados no Brasil;
- o sistema impede novos cadastros e bloqueia recebimento de publicidade de casas de apostas;
- mesmo quem ainda não aposta poderá se cadastrar para não receber ofertas nem anúncios de bets;
- a plataforma vai oferecer orientações e links para atendimento na rede do SUS, via
Meu SUS Digital e Ouvidoria.
Ou seja: além de dizer “não quero mais jogar”, o usuário poderá dizer “não quero nem ser impactado por esse mercado”.
🧠 Dependência em apostas: por que o tema virou caso de saúde pública
Pesquisas recentes mostram que o Brasil já enfrenta um tsunami silencioso de apostadores em situação de risco.
Um levantamento citado pela comunidade científica estima que cerca de
10,9 milhões de brasileiros jogam de forma a colocar em risco
sua saúde, relações familiares e finanças pessoais.
A própria área de saúde mental do governo federal já vinha alertando que o vício em bets
é um problema tão grave quanto o alcoolismo ou a dependência em tabaco,
motivo pelo qual o tema passou a integrar pesquisas oficiais de saúde e debates no Senado.
Com o boom das apostas online e da “gamificação” de tudo, a linha entre diversão e dependência ficou cada vez mais tênue –
principalmente entre jovens e adultos endividados, alvo direto de campanhas agressivas de marketing.
🏥 O que o SUS vai oferecer para quem está em risco
O Observatório não será apenas um painel de dados – ele vem acoplado a um pacote de ações de cuidado.
De acordo com o Ministério da Saúde, está prevista:
- a ampliação do atendimento em saúde mental pelo SUS para pessoas com problemas ligados a apostas;
- a integração com CAPS, atenção primária e serviços especializados;
- a oferta, a partir de fevereiro de 2026, de
teleatendimentos em saúde mental focados em jogos e apostas, em parceria com o
Hospital Sírio-Libanês, dentro do programa Proadi-SUS; - ações educativas e campanhas nacionais de prevenção voltadas a escolas, famílias e mídia.
O objetivo declarado é claro: evitar que o problema exploda antes de chegar ao pronto-socorro financeiro e emocional.
💸 Impacto direto no mercado de bets e no marketing digital
A criação da plataforma de autoexclusão e do Observatório tem implicações profundas para o
mercado regulado de iGaming e apostas esportivas:
- Base de usuários menor e mais filtrada: jogadores compulsivos poderão se excluir, reduzindo
o ticket de um público que hoje, em muitos casos, sustenta grande parte do volume apostado. - Pressão por marketing responsável: campanhas agressivas direcionadas a públicos vulneráveis
passam a ser ainda mais questionadas – e podem ser alvo de fiscalização. - Compartilhamento de dados: indicadores do Observatório podem ser utilizados para
endurecer regras, ajustar tributação e reforçar exigências de compliance e KYC. - Risco reputacional: empresas que ignorarem o tema “jogo responsável” tendem a ficar marcadas
como parte do problema – e não da solução.
📊 Dados, CPI das Bets e regulação: peças do mesmo tabuleiro
Nos últimos anos, a CPI das Bets, a criação da
Secretaria de Prêmios e Apostas e o marco regulatório das bets já apontavam para um
estado mais presente na regulação do setor.
O Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas entra como a peça que faltava:
um centro nervoso de dados de saúde pública ligado diretamente ao comportamento dos apostadores.
Com informação qualificada, governo e reguladores ganham munição para:
- propor novas regras para publicidade e patrocínios;
- ajustar o nível de exigência de operadores licenciados;
- apontar para onde devem ir os recursos de impostos e fundos vindos do setor.
🔮 Três perguntas que o mercado precisa responder agora
- As casas de apostas estão prontas para um ambiente com autoexclusão em massa?
- Os clubes, influenciadores e criadores de conteúdo vão rever o tom da propaganda de bets?
- O Observatório será um instrumento técnico de saúde ou mais uma arena de disputa política?
Para operadores, afiliados, clubes esportivos e plataformas de mídia, o recado é claro:
quem não incorporar jogo responsável e cuidado com a saúde mental na estratégia agora, vai ficar para trás.
Já para a população, especialmente para quem sente que “perdeu o controle” nas apostas,
a mensagem é outra: pela primeira vez o Estado está oferecendo um botão oficial de “pare o jogo” –
e uma porta de entrada para tratamento no SUS.
O Observatório Brasil Saúde e Apostas Eletrônicas pode ser o divisor de águas entre um mercado que apenas lucra com o vício e um ecossistema que reconhece a dependência em bets como o que ela realmente é: um problema sério de saúde pública.
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