Duas das maiores empresas B2B do setor de apostas e jogos online estão em rota de colisão: Evolution e Playtech estão trocando acusações de campanhas difamatórias e atividades ilícitas.
Listada em Estocolmo, a Evolution AB divulgou um comunicado nesta terça-feira, 22, revelando que a Playtech teria contratado a Black Cube, empresa israelense de inteligência privada que se apresenta como especializada em “disputas de alto risco”. A acusada confirmou posteriormente que havia encomendado uma investigação particular sobre sua concorrente, como reportado pelo SBC News.
A Black Cube publicou, no início deste ano, um relatório afirmando ter encontrado provas de que a Evolution operava ilegalmente na China, no Irã e no Sudão, países em que jogos online são totalmente proibidos, após uma investigação conduzida entre 2021 e 2023.
Essas alegações seguiram denúncias de má conduta, incluindo atividades em mercados “ilegais” e “cinzentos”, que surgiram em 2021, quando o escritório de advocacia Calcagni & Kanefsky LLP entrou com um processo em Nova Jersey em nome de um “concorrente não identificado”.
A Evolution afirma que a Black Cube identificou a Playtech como cliente após o Tribunal Superior de Nova Jersey determinar que a empresa revelasse quem havia encomendado o relatório. Documentos judiciais confirmaram que a Black Cube forneceu o nome de seu cliente. Após essa revelação confidencial, a Evolution publicou um comunicado nomeando oficialmente a provedora como responsável.
“Embora a Playtech tenha finalmente sido identificada após anos tentando manter seu envolvimento nessa campanha difamatória em segredo, a Black Cube continua a desobedecer às ordens judiciais ao reter informações relevantes”, acusou.
A empresa também alega que a Playtech contratou a Black Cube em dezembro de 2020, pagando £ 1.8 milhão pela investigação e pelo vazamento das conclusões à imprensa, com a Bloomberg sendo o primeiro veículo a divulgar as alegações de atividades não licenciadas.
A Evolution classificou a situação como “profundamente perturbadora”, dizendo ser “inaceitável que um concorrente tenha recorrido a medidas tão extremas para prejudicar nosso negócio e reputação”.
Playtech vs Evolution
A Playtech respondeu rapidamente, sem negar que encomendou o relatório, mas afirmando que “mantém sua decisão” e reforçando as conclusões de que as “práticas da Evolution minam operações de jogos legais e em conformidade”.
No entanto, a Playtech não confirmou se o relatório foi realizado pela Black Cube, apenas declarou que uma “empresa independente de inteligência empresarial” conduziu a investigação com base em preocupações levantadas por operadores, fornecedores e reguladores.
“Tal conduta prejudica a credibilidade de todo o setor e, em última instância, impacta a arrecadação de impostos dos governos”, afirmou a Playtech, acusando a Evolution de práticas com repercussões amplas no momento em que a arrecadação fiscal é prioridade global.
O comunicado prosseguiu: “A Evolution continua tentando evitar o escrutínio legítimo em vez de responder a questões antigas sobre sua conduta, incluindo sua decisão de fornecer serviços a operadores em mercados ilegais e apoiar operadores não licenciados em mercados regulados”.
Ambas parecem prontas para se enfrentar nos tribunais, e tudo indica que um confronto judicial está prestes a começar.
A empresa declarou que pretende “responsabilizar a Black Cube, a Playtech e todos os demais envolvidos nesse esquema difamatório”. Concluiu: “Confiamos em nossa posição legal e esperamos finalmente responsabilizar a Playtech e seus cúmplices pelos danos significativos que causaram”.
Argumentos apresentados pelas empresas
A confiança da Evolution se apoia em vitórias anteriores contra o escritório Calcagni & Kanefsky LLP e a então “concorrente não identificada”, agora revelada como Playtech.
Em fevereiro de 2024, a Divisão de Fiscalização de Jogos de Nova Jersey (DGE) informou que não conseguiu comprovar as alegações do relatório. Em setembro de 2025, uma nova decisão reforçou a visão de que o documento da Black Cube era “sem fundamento objetivo”.
Mesmo assim, a Playtech parece pouco abalada, afirmando que “acolhe a oportunidade de exame judicial do relatório e de suas conclusões”.
Assim como a Evolution diz estar confiante em provar que o relatório foi difamatório, a Playtech declarou estar “segura de que o processo confirmará a credibilidade e legitimidade da investigação e a importância das questões abordadas”.
A revelação do papel da Playtech no relatório da Black Cube já teve consequências negativas: desde o “desmascaramento”, as ações da empresa caíram cerca de 25%, chegando a 258 pennys, o que eliminou aproximadamente £ 300 milhões em valor de mercado.
Isso ocorre no momento em que a companhia está se reestruturando para atuar exclusivamente como empresa B2B em 2025, após encerrar outra disputa judicial, desta vez com a mexicana Caliente, sobre a joint venture Caliplay.
As ações da Playtech foram duramente criticadas por analistas do setor. De forma irônica, enquanto acusa a Evolution de manchar a imagem da indústria com atividades ilegais, a própria Playtech agora enfrenta acusações semelhantes por ter contratado a Black Cube.
“A indústria de jogos online não precisa de mais ajuda para parecer desonesta e duvidosa. Essa nova revelação só reforça a percepção de que o setor, como um todo, não pode ser totalmente confiável — embora a maioria dos operadores e fornecedores sejam empresas sérias, conduzidas por pessoas decentes, tentando oferecer um produto legítimo”, afirmou a consultoria Regulus Partners, especializada em apostas.
“Uma indústria que só pode prosperar com seu contrato social intacto simplesmente não pode agir dessa forma — é pior que surdez corporativa: é autodestrutiva para todo o setor, algo sobre o qual os próprios clientes da Playtech certamente estão refletindo”, continuou.
Uma vitória judicial contra a Evolution pode ser decisiva para a Playtech nesse contexto — caso a guerra de palavras se transforme, de fato, em uma batalha nos tribunais.
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