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Um dos intuitos de qualquer país que sedia grande eventos esportivos é fazer com que todo o investimento permita um “momentum” duradouro. Nos Jogos Olímpicos, isso é ainda mais exacerbado, e o desejo de fomentar pequenas revoluções esportivas e sociais é pauta recorrente, ainda mais agora, sob a luz das premissas listadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no documento batizado de “Agenda 2020”. A palavra “legado”, porém, virou tabu em terras tupiniquins depois da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos do Rio de Janeiro 2016. Questiona-se, no Brasil, a longevidade do impacto desses eventos, que tinham tudo para serem profundamente transformadores.
Desde que dei minha guinada profissional, deixando o Brasil para acompanhar meu marido em seu doutorado na França, tinha certeza de que a “maluquice” poderia trazer oportunidades interessantes. E nesses pouco mais de dois anos vivendo a dor e a delícia de estar na cidade-sede dos próximos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, envolvi-me com projetos potentes e sigo colaborando com o esporte do Brasil. E a palavra legado, sempre ela, anda bem viva por aqui.
É justo por meio do esporte brasileiro que a Região Grand Est, no leste da França, fronteira com Alemanha, Bélgica e Luxemburgo, que o impacto de Paris 2024 poderá ser sentido em dois departamentos (equivalente aos nossos estados) em especial: Aube e Moselle.
Dois centros de treinamento de altíssima qualidade (um na região metropolitana de Troyes, em Aube, e outro nos arredores de Metz, em Moselle) usaram recursos financeiros e vontade política, sob o pretexto de Paris 2024, para incrementarem suas estruturas e assim servir… à população. A vinda do Comitê Paralímpico Brasileiro para Aube e das equipes olímpicas de vôlei de quadra e de praia para Moselle é a cereja desse bolo que beneficia mais de um milhão de pessoas em cada território. A lógica aqui é diferente do que conhecemos: primeiro se pensa no uso dos cidadãos para depois ver se é possível rechear aquilo tudo com a alta performance. Questão de cultura esportiva, eu diria.
Enquanto Aube, dona do Centro Esportivo de L´Aube – CSA , aproveita-se da presença dos paratletas para incrementar sua oferta de serviços e modalidades esportivas ligadas à pessoa com deficiência e ampliar a discussão sobre inclusão e acessibilidade, Moselle aproveitou as demandas de excelência para receber Bernardinho e seus comandados para que seus equipamentos tivessem o mais alto nível. Nos mesmos “leg press” e bicicletas ergométricas que Bruninho e seus companheiros treinarão na Academia Moselle – Academos, passarão também cerca de 8 mil pessoas em processo de reabilitação de doenças graves ou crônicas. Eles recebem do Departamento da Moselle o direito de sete sessões supervisionadas e um cheque de € 100 para seguirem sua reabilitação física ou cardiovascular.
A parceria entre Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e Moselle, que começou com um olhar pontual para Paris 2024 (cinco seleções já treinaram por lá), foi prorrogada até 2028, prevendo a passagem de equipes de quadra e de praia pelo local para treinos e amistosos. O objetivo é o desenvolvimento técnico do vôlei nacional desde as categorias mais jovens. Na mão inversa, o incipiente vôlei de Moselle se beneficiará do intercâmbio com clínicas e atividades que permitirão a evolução de árbitros, treinadores e atletas.
Mas não é só a bola no alto que importava para Moselle quando decidiu abrir as portas para o vôlei brasileiro. Ao pulverizar quadras de vôlei de praia pelos quatro quantos e usar os atributos do Brasil e seus atletas de vôlei, como a campeã olímpica Jackie Silva (ouro em Atlanta 1996) e o medalhista olímpico Marcelinho Elgarten (prata em Pequim 2008), como embaixadores de ações junto a crianças e adolescentes na I Semana do Vôlei em Moselle, o departamento conhecido pela siderurgia quer modernizar sua imagem, ser atraente para novos moradores e encantar a juventude local.
Os Jogos de Paris 2024 serão disputados a 340km de distância de Metz, em Moselle. Mas isso tudo que se vê por lá se chama… legado.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte
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Por meio do esporte brasileiro, a Região Grand Est, no leste da França, terá o impacto de Paris 2024 sentido em dois departamentos (equivalente aos nossos estados) em especial: Aube e Moselle
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